“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”. Desde outubro de 2019, logo após o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) soltar a frase acima, a Organização das Nações Unidas (ONU) aguarda explicações do presidente do Brasil no caso do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
Já são mais de 500 dias. Há duas semanas, de acordo com informações da coluna de Guilherme Amado, na Época, em resposta a um requerimento de informações do deputado Marcelo Calero, do Cidadania do Rio de Janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, escreveu que "não há prazo para envio de eventual resposta do Estado brasileiro".
Naquele mês, como forma de insultar o chefe da OAB, Bolsonaro afirmou que o líder estudantil desaparecido na época da ditadura militar havia sido morto pelos seus próprios companheiros.
“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro à época.
A Comissão da Verdade investigou e verificou que Fernando Santa Cruz foi capturado, torturado e morto pelo regime militar. Seu corpo foi incinerado em uma fábrica de açúcar no Rio de Janeiro, como confirmou um delegado da época.
A versão dada por Bolsonaro está sendo questionada pela ONU. Segundo o órgão, pessoas que saibam ou atrapalhem as investigações ou retenham tais informações podem ser responsabilizadas pela continuação de um desaparecimento forçado.
“Gostaríamos de lembrar que o desaparecimento forçado é um crime complexo que não só afeta a pessoa que desapareceu, mas também inflige sofrimento à família da vítima. O direito internacional deixa claro que a contínua privação da verdade sobre o destino de uma pessoa desaparecida constitui um crime cruel, desumano e degradante”, diz a carta da ONU endereçada ao presidente brasileiro.
Com informações da coluna de Guilherme Amado, na Época