O Ministério das Relações Exteriores, sob comando de Ernesto Araújo, classificou como "reservados" os telegramas com instruções a diplomatas brasileiros na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre temas relacionados ao aborto, igualdade de gênero e educação sexual. O sigilo foi imposto pelo governo de Jair Bolsonaro até 2025.
De acordo com a coluna de Jamil Chade, no UOL, a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados foi quem solicitou detalhes sobre os telegramas ao Itamaraty. A chancelaria, no entanto, não explicou o motivo pelo qual decidiu barrar o acesso aos documentos.
A decisão ocorre após ser divulgado que o governo de Jair Bolsonaro tentou enfraquecer e derrubar resoluções sobre direitos das mulheres na ONU. Após o episódio, deputados do PSOL solicitaram explicações ao governo brasileiro. O Itamaraty, no entanto, colocou sigilo nos documentos após o pedido dos parlamentares, enviado em 9 de julho.
Ernesto Araújo, porém, confirmou no texto que enviou aos parlamentares que o Brasil de fato tentou alterar resoluções contra a violência e discriminação contra mulheres no Conselho de Direitos Humanos da ONU. "A delegação brasileira foi orientada a se opor a expressões que pudessem imprimir conotação positiva ao aborto", disse.
A própria ONU já reconheceu e alertou sobre a influência da religião nas políticas do governo Bolsonaro. Em relatório enviado em março ao Conselho de Direitos Humanos, o Brasil foi enquadrado como um país onde a religião é usada para justificar a restrição ao acesso à educação sexual por meninas e mulheres. O relatório também cita que direitos reprodutivos e acesso à saúde sexual estão igualmente restritos no país.