Governadores do Nordeste assinam carta contra incentivo de Bolsonaro à invasão de hospitais

Carta assinada pelos gestores dos 9 estados do Nordeste vem logo após a notícia de que um grupo quebrou equipamentos de um hospital no Rio para checar se tinha leitos, seguindo a orientação de Bolsonaro

Foto: Fernando Vivas/Governo da Bahia
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Os governadores dos 9 estados do Nordeste divulgaram, no final da tarde desta sexta-feira (12), uma carta conjunta em que rechaçam o incentivo de Jair Bolsonaro à invasão de hospitais e os ataques do presidente direcionados aos gestores estaduais.

Na quinta-feira (11), durante sua live semanal, Bolsonaro disse que não há superlotação de hospitais e pediu para que apoiadores invadam as unidades de saúde para filmar e checar se há leitos disponíveis ou não.

Nesta sexta-feira, pouco antes da divulgação da carta dos governadores, um grupo invadiu um hospital no Rio de Janeiro e quebrou equipamentos, e relatos dão conta de que os membros do grupo queriam checar se havia leitos disponíveis - exatamente como orientou Bolsonaro.

Na mesma live, o presidente voltou a atacar governadores, dizendo que muitos inflam os números do coronavírus para receber recursos.

"Não é invadindo hospitais e perseguindo gestores que o Brasil vencerá a pandemia", escreveram os mandatários estaduais.

Na carta, os governadores destacam ainda o esforço de suas gestões para o combate ao coronavírus e a falta de diálogo por parte do governo federal.

Leia abaixo a íntegra.

“Não é invadindo hospitais e perseguindo gestores que o Brasil vencerá a pandemia”

Os governadores de Estado têm lutado fortemente contra o coronavírus e a favor da saúde da população, em condições muito difíceis.

Ampliamos estruturas e realizamos compras de equipamentos e insumos de saúde de forma emergencial pelo rápido agravamento da pandemia. Foi graças à ampliação da rede pública de saúde, executada essencialmente pelos Estados, que o país conseguiu alcançar a marca de 345 mil brasileiros recuperados pela Covid-19 até agora, apesar das mais de 41 mil vidas lamentavelmente perdidas no país.

Desde o início da pandemia, os Governadores do Nordeste têm buscado atuação coordenada com o Governo Federal, tanto que, na época, solicitamos reunião com o Presidente da República, Jair Bolsonaro, que foi realizada no dia 23/03/2020, com escassos resultados. O Governo Federal adotou o negacionismo como prática permanente, e tem insistido em não reconhecer a grave crise sanitária enfrentada pelo Brasil, mesmo diante dos trágicos números registrados, que colocam o país como o segundo do mundo, com mais de 800 mil casos.

No último episódio, que choca a todos, o presidente da República usa as redes sociais para incentivar as pessoas a INVADIREM HOSPITAIS, indo de encontro a todos os protocolos médicos, desrespeitando profissionais e colocando a vida das pessoas em risco, principalmente aquelas que estão internadas nessas unidades de saúde.

O presidente Bolsonaro segue, assim, o mesmo método inconsequente que o levou a incentivar aglomerações por todo o país, contrariando as orientações científicas, bem como a estimular agressões contra jornalistas e veículos de comunicação, violando a liberdade de imprensa garantida na Constituição.

Além de tudo isso, instaura-se no Brasil uma inusitada e preocupante situação. Após ameaças políticas reiteradas e estranhos anúncios prévios de que haveria operações policiais, intensificaram- se as ações espetaculares, inclusive nas casas de governadores, sem haver sequer a prévia oitiva dos investigados e a requisição de documentos. É como se houvesse uma absurda presunção de que todos os processos de compra neste período de pandemia fossem fraudados, e governadores de tudo saberiam, inclusive quanto a produtos que estão em outros países, gerando uma inexistente responsabilidade penal objetiva.

Tais operações produzem duas consequências imediatas. A primeira, uma retração nas equipes técnicas, que param todos os processos, o que pode complicar ainda mais o imprescindível combate à pandemia. O segundo, a condenação antecipada de gestores, punidos com espetáculos na porta de suas casas e das sedes dos governos.

Destacamos que todas as investigações devem ser feitas, porém com respeito à legalidade e ao bom senso. Por exemplo, como ignorar que a chamada “lei da oferta e da procura” levou a elevação de preços no MUNDO INTEIRO quanto a insumos de saúde?

Ressalte-se que, durante a pandemia, houve dispensa de licitação em processos de urgência, porque a lei autoriza e não havia tempo a perder, diante do risco de morte de milhares de pessoas. A Lei Federal 13.979/2020 autoriza os procedimentos adotados pelos Estados.

Estamos inteiramente à disposição para fornecer TODOS os processos administrativos para análise de qualquer órgão isento, no âmbito do Poder Judiciário e dos Tribunais de Contas. Mas repudiamos abusos e instrumentalização política de investigações. Isso somente servirá para atrapalhar o combate ao coronavírus e para produzir danos irreparáveis aos gestores e à sociedade.

Deixamos claro que DEFENDEMOS INVESTIGAÇÕES sempre que necessárias, mas de forma isenta e responsável. E, onde houver qualquer tipo de irregularidade, comprovada através de processo justo, queremos que os envolvidos sejam exemplarmente punidos.

Rui Costa, Governador da Bahia

Renan Filho, Governador de Alagoas

Camilo Santana, Governador do Ceará

Flávio Dino, Governador do Maranhão

João Azevedo, Governador da Paraíba

Paulo Câmara, Governador de Pernambuco

Wellington Dias, Governador do Piauí

Fátima Bezerra, Governadora do Rio Grande do Norte

Belivaldo Chagas, Governador de Sergipe