O final de semana no Brasil nos trouxe novamente cenas insólitas. Carreatas em várias cidades da base bolsonarista contra o isolamento social, tendo como ponto mais marcante a carreata em São Paulo com centenas de carros fazendo buzinaço em frente a um hospital e atacando o governo do Estado, Congresso, STF, Ciência até pedidos de lunáticos por uma intervenção militar!
Para piorar, o próprio Bolsonaro deu discurso a mentecaptos que no Dia do Exército (19 de abril) se aglomeravam em frente a quartéis pedindo Ditadura Militar. Nos EUA, as manifestações da extrema-direita deram lugar a armas, símbolos nazistas e os mesmos ataques a governadores.
Pablo Ortellado escreveu em seu twitter que o presidente ataca o estado mais afetado da pandemia e estimulou protestos em cidades, questionando se a referência se tratava de Trump ou Bolsonaro. A resposta correta seria ambos. Afinal, é inegável que o caminho percorrido pelos dois presidentes é o negacionismo e o totalitarismo. Como apontou Elio Gaspari, Trump adoraria cortar a língua de Antony Faucci (diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas), já Bolsonaro demitiu Mandetta por seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde e articular medidas de proteção juntos aos secretários de saúde nos estados. Claro que há diferenças entre os países: das concessões conquistadas pelos governadores e o povo estadunidense ao neoliberalismo nacional-entreguista e tupiniquim a la Bolsonaro. Nada que diminua a necessidade de lutar contra ambos, pois essas políticas na prática poderão levar a milhares de mortos, típica de um “Estado Suicidário” como apontou Safatle. São criminosos e como tal devem ser tratados. A irresponsabilidade de ambos e a política de salvar a “saúde” dos mercados em detrimento de milhares de vidas deve ser repudiada de forma veemente pela humanidade.
Cabe a nós, em primeiro lugar fazer a maior unidade de ação possível com os defensores da ciência e da vida. Infelizmente, estamos lutando pelo básico. É preciso que as evidências científicas e estratégias mais exitosas, diante de um vírus que ainda não tem vacina e nem remédio, sejam executadas. Nessa jornada, identificar a divisão burguesa e aproveitar as brechas é imprescindível. Assim como nos EUA, no Brasil está se processando um elemento de duplo poder institucional, onde governadores, STF e Parlamento apontam para um lado, enquanto Bolsonaro buscar organizar e alimentar sua base de extrema-direita para coesioná-la e tenta ganhar um setor do movimento de massas e da pequena burguesia já desesperado pela falta de dinheiro e pela necessidade do isolamento. É perverso, porque com sua caneta de presidente demora para pagar a renda básica emergencial e a ajuda financeira aos Estados. Joga com o desespero e com o colapso nos sistemas de saúde para que aos olhos do povo a culpa recaia nas costas dos governadores. Por isso, a máxima de que parar Bolsonaro é uma medida sanitária prioritária, e que deve andar junto com a luta contra o covid-19, é urgente. Não queremos desgastar Bolsonaro para esperar o calendário eleitoral. A postura dele pode levar a dezenas de milhares de mortos em um novo genocídio na nossa história. Isso atualiza a necessidade de debater a luta pelo seu impeachment que o responsabilize pelos inúmeros crimes que já cometeu. Não se pode esperar o genocídio para freá-lo.
Para isso, além da unidade de ação com os defensores da Ciência, precisamos estimular a contestação espontânea expressa nos panelaços, fortalecer as medidas de exigência para mostrar ao movimento de massas que tem outros caminhos que não só escolher passar fome ou contrair o coronavírus, priorizar os soldados que estão na linha de frente da defesa da vida, ou seja, defender os profissionais da saúde que estão nas piores condições nesses momentos, e apresentar nossas medidas econômicas para que os ricos paguem a conta dessa crise. A pandemia revelou a fratura já exposta do vírus Capitalismo. Se o mundo não será mais o mesmo depois do Coronavírus, cabe a nós construir uma saída em que a humanidade esteja em primeiro lugar.
*Fernanda Melchionna é líder do PSOL na Câmara dos Deputados e pré-candidata a prefeita de Porto Alegre