Se tomamos como exemplo os gestos, como as muitíssimas viagens de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, ou a conversa telefônica entre o chanceler Ernesto Araújo e o representante comercial do governo dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, a impressão que se tem é de que o Brasil está avançando em sua tentativa de incrementar suas relações comerciais com o país norte-americano.
Mas, na prática, isso não é bem assim, segundo muitos analistas consultado em um recente artigo da página Sputnik Brasil.
Por exemplo, o economista Ricardo Gennari, da empresa de consultoria Troia Intelligence, considera que uma intensificação desse comércio é muito difícil, devido ao contexto geopolítico atual. Ele considera que muitos países estão se voltando cada vez mais ao seu mercado interno, e que os Estados Unidos é o que mais está fazendo este movimento.
“Todo mundo vai se voltar para o mercado interno de seus países, e só depois disso nós teremos uma reação do mercado internacional para novas parcerias e negociações”, considera o economista, que completa: “não vejo negócios sendo refeitos entre Brasil e Estados Unidos nos próximos meses”.
Outro grande obstáculo para o Brasil é a crise do coronavírus, e não somente o que já está acontecendo agora, mas principalmente o cenário pós-pandemia. O economista Gilberto Braga, outro citado pelo artigo, lembra de declarações recentes do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, dizendo que seu país só poderá dar atenção ao Brasil após superar a crise econômica causada no país pela pandemia.
“Neste momento, como o próprio Pompeo disse, é preciso esperar o país dobrar a esquina da pandemia para se estabelecer um relacionamento mais direto. Há um alinhamento político entre o governo Bolsonaro e o governo Trump, sobretudo nos posicionamentos mais pessoais dos dois presidentes, mas são realidades muito distintas”, disse Braga, que também é professor do Ibmec-RJ e da Fundação Dom Cabral.
Mesmo reconhecendo as afinidades ideológicas de Bolsonaro e Trump, Braga tampouco considera fácil essa intensificação comercial com os Estados Unidos, que o governo brasileiro sonha. “O comércio e o mundo serão diferentes após a pandemia, pois deve ocorrer um aumento do nacionalismo no mundo, com os EUA aprofundando políticas para elevar sua produção local”, afirma.
Nesse sentido, Gennari também acha que apostar demais na relação com os Estados Unidos pode ser arriscado demais para o Brasil, assim como o acirramento de ânimos com a China.
“O mundo terá uma nova geopolítica, e não sabemos como serão os enfrentamentos e conflitos que provavelmente virão, principalmente econômicos, entre Estados Unidos e China. O que a gente precisa nesse momento é ter estratégias políticas adequadas para realmente enfrentar essa geopolítica que vem pela frente, e estar preparados para diferentes cenários”, opina o economista.