Forças Armadas usam verba de ação contra crime ambiental na Amazônia para reformar quarteis, aponta revista

Reportagem da Piauí demonstra que dinheiro da operação Verde Brasil 2 foi empregado em tinta, portas, telhas e outros materiais e serviços de construção

Militar em ação em Rondônia na Operação Verde Brasil (Foto Divulgação / Exército Brasileiro)
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Em reportagem publicada nesta segunda-feira (5), a jornalista Marta Salomon, da revista Piauí, mostra que unidades do Exército investiram dinheiro destinado a combate a desmatamento e queimadas em reforma de batalhões e unidades.

No texto, a jornalista destaca que a Operação Verde Brasil 2, que foi iniciada em maio e prorrogada até o início de novembro, teve autorização para gastar R$ 418,6 milhões em seis meses. O valor  é mais do que o dobro dos R$ 176,8 milhões destinados às ações do ano todo de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A Verde Brasil 2 tem como objetivo oficial o combate a crimes ambientais na Amazônia Legal, buscando reduzir queimadas e desmatamento ilegais. E é para esse fim que o dinheiro, teoricamente, deveria ser destinado.

Mas a Piauí analisou os gastos registrados pelo Tesouro Nacional e descobriu que a verba da operação financiou reformas de diversas instalações militares. No 47º Batalhão de Infantaria, em Coxim (MS), por exemplo, foram mais de R$ 600 mil reais já reservados para a revisão geral dos telhados. Outros R$ 545 mil da operação foram usados na troca de portas e esquadrias de madeira, vidro e alumínio. Há outros serviços lançados para o local, como pintura com “tinta premium”, troca dos pisos – por porcelanato – e do revestimento de paredes. Até 24 de setembro, diz a Piauí, só o 47º Batalhão havia registrado despesas de R$ 2,1 milhões na conta da Verde Brasil 2.

A revista procurou o comando desse batalhão, que justificou assim o repasse da verba da operação para obras: “Os recursos advindos dessa Operação estão proporcionando uma revitalização de todo o patrimônio público sob a responsabilidade desse batalhão, particularmente nos seus bens imóveis que possuem 45 anos de existência”.

Mas não foi esse o único local em que o dinheiro de uma operação para combater crimes na Amazônia e tentar reduzir desmatamento e queimadas foi usado em reformas. O 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, em Cuiabá, dentro da área da Amazônia Legal, contratou a troca do telhado, reforma das instalações elétricas e pintura nova com os recursos. As despesas lançadas em setembro no sistema do Tesouro Nacional ultrapassaram R$ 1,2 milhão.

Outras unidades das Forças Armadas aproveitaram o recurso extra. Em julho, o Centro de Intendência da Marinha em Ladário (MS) comprou mais de 600 galões de tinta, nas cores branco gelo e neve, para as instalações. O Centro de Intendência da Marinha em Manaus contratou em agosto a recarga de mais de cem extintores de incêndio. Mas não, eles não são apropriados para o combate às chamas na floresta. São para uso da própria unidade.

Floresta desmatada e queimada

Enquanto essas despesas eram autorizadas com a verba da Verde Brasil 2, os números das queimadas e do desmatamento na Amazônia não pararam de crescer.

As áreas de alerta de desmatamento do Inpe cresceram de 834 km² em maio para 1.043 km² em junho e 1.659 km² em julho. Em agosto, os alertas somaram 1.359 km². A perspectiva é que o acumulado entre agosto do ano passado e julho deste ano, período de coleta da taxa anual do desmatamento, bata mais um recorde na década.

Os focos de queimadas e incêndios detectados pelos satélites do Inpe entre janeiro e setembro, por sua vez, também ultrapassam os números de 2019 para esse mesmo período.