O ex-ministro José Dirceu (PT), em artigo publicado nesta terça-feira (27) no site Poder 360, fez uma análise de conjuntura política do Brasil e projetou um cenário de "tempestade social", motivado pela política econômica de austeridade do governo, que segundo ele "vai atingir a todos".
Segundo Dirceu, o fim do auxílio emergencial, que Bolsonaro estendeu até o final do ano, com parcelas reduzidas, vai se somar ao crescente desemprego, gerando recessão. O ex-ministro aponta que as políticas de austeridade do governo vão no caminho contrário do mundo e tendem a agravar a "tempestade social", que já é dada como certa. "Insistem e persistem numa política, dita de austeridade, para os trabalhadores e classes médias, que não deu certo em nenhum lugar do mundo e que hoje é contestada até pelo FMI. Enquanto a Europa e os Estados Unidos retomam a política de endividamento e emissão de moeda via dívida pública, e seus bancos centrais e os governos mantêm a renda e o emprego, investem e financiam as empresas, aqui só se fala em teto de gastos, em dívida pública, em juros mais altos", afirma.
"Chegamos ao absurdo de cortar salários e aumentar impostos, não sobre a renda, a riqueza e o patrimônio, sobre lucros e dividendos, lucro sobre o capital próprio, grandes fortunas, heranças e doações, mas sobre bens e serviços, agravando ainda mais nossa estrutura tributária injusta, indireta e regressiva", completa o petista.
No texto, o advogado ainda denuncia a conivência das elites econômicas do país, incluindo a "mídia monopolista", com a degradação política do governo Bolsonaro. "Uma palavra sobre a degradação política do governo Bolsonaro, sob o olhar conivente e conciliador da maioria da elite econômica e política do país, incluindo aí a mídia monopolista, na ilusão de que o capitão continuará popular e já se adapta aos bons modos do jogo político do Centrão e da oposição liberal de direita, do 'Estado de Direito' regido pelo STF", escreve.
"Nem mesmo as evidentes e públicas provas dadas pelo presidente de uma incapacidade para o cargo, a perigosa e nefasta presença de sua família e os riscos da volta do militarismo fazem nossa elite política, judicial e empresarial acordar para os riscos que a democracia e a nação correm", continua Dirceu.
Em outro ponto do artigo, o ex-chefe da Casa Civil elenca caminhos que poderiam evitar o agravamento da crise política e social. Entre suas propostas, estão a instauração de uma renda básica de R$600, aumento no valor do Bolsa Família e, entre outras, "uma ampla reforma tributária e do sistema financeiro bancário".
"Os fatos desmentem o fervor messiânico no neoliberalismo, que perde força no mundo. Há um novo consenso mundial sobre o papel do Estado e do investimento público e, agora, a Europa e os próprios Estados Unidos estão trilhando esse caminho. Sem não pôr um fim na atual estrutura tributária e ao cartel bancário, o Brasil continuará à margem do crescimento com bem-estar social. Pior, só vai reforçar a concentração de riqueza via a expropriação da renda e do salário por juros reais absurdos e impostos regressivos", analisa.
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