O publicitário João Santana, ex-marqueteiro do PT, concedeu na noite desta segunda-feira (26) sua primeira entrevista desde que saiu da prisão, em 2018, ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele foi preso pela Lava Jato em 2016 e condenado a 8 anos e 4 meses por lavagem de dinheiro de caixa 2 na campanha de Dilma Rousseff à presidência de 2010. Ele foi solto em outubro de 2018 após fechar acordo de delação premiada.
Logo no início da entrevista, ainda antes de ser perguntado sobre o tema, João Santana falou sobre o caixa 2, dizendo que a prática era "geral" no país e que poucas pessoas foram responsabilizadas. "O caixa 2 é uma coisa que domina. O caixa 2 não foi apenas uma unha encravada. O caixa 2 sempre foi a alma do sistema eleitoral brasileiro, era uma coisa geral. E poucos foram punidos", afirmou.
Ainda em sua explanação sobre caixa 2, o marqueteiro disse que a imprensa sempre soube da prática, mas não denunciava porque seria algo "cultural" e que foi normalizado. Ele ainda foi além, esquentando o clima do programa, ao afirmar que era "normal" jornalistas pedirem licença de suas empresas para trabalharem em campanhas políticas, recebendo pagamento através de caixa 2.
"Quando você vive um sistema de ruina moral, todo mundo é cúmplice e todo mundo é vitima. A imprensa sabia do caixa 2. Era costume de jornalistas tirarem licença de 2, 3 meses para trabalhar em campanha e ganhar o que não ganhavam o ano todo, em caixa 2", disparou, gerando contestações dos jornalistas da bancada.
Santana ainda teceu fortes críticas a Lava Jato, afirmando que a operação acertou ao "colocar o dedo fortemente" no caixa 2, mas que "ficou muito localizado". Ele disse ainda que a Lava Jato foi "o melhor esquema de marketing politico do Brasil" e que "alimentou a rede de ódios".
O publicitário também revelou que teve, nos últimos anos, câncer no estômago, que já foi tratado, e que fazer acordo de delação premiada foi "a pior experiência" de sua vida. "Foi uma descida ao inferno. Conflitos afetivos e morais de toda natureza. Quando você confronta isso ao seu bem maior que é a vida, você revê isso e fica pequeno. Eu só tinha duas opções: corria risco de vida, tive câncer. Tinha que escolher entre a vida ou falar a verdade. Optei pela verdade sem retoques mas também sem dramatizações, sem mentiras", revelou.
Em outro momento, João Santana disse que, depois que foi preso, se sentiu abandonado pelo PT. Mesmo assim, quando questionado sobre a "honestidade" dos ex-presidentes Lula e Dilma, reafirmou que não acredita que eles sejam desonestos, reforçando que a prática de caixa 2 era algo geral na política e que ele nem mesmo a considera um crime. "Não acho que seja desonestidade. Era um uso de fundo eleitoral, é uma questão complicadíssima (...) Nunca disse que Lula e Dilma são desonestos", pontuou.