Em artigo no jornal O Globo neste domingo (11), Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador da Lava Jato, criticou o "'acordão' nacional patrocinado por Toffoli e Maia ainda no início de 2019" e a declaração de Jair Bolsonaro "ao se vangloriar que acabou com as investigações porque, pasmem, em seu governo não há corrupção".
"Bolsonaro claramente sequer compreende o significado da palavra corrupção, e o seu compromisso eleitoral em combatê-la, se em algum momento foi verdadeiro, se referia apenas à corrupção dos outros. E mesmo esse compromisso acabou quando foi descoberto o esquema familiar da rachadinha. Não bastassem suas próprias palavras em relação ao seu desejo de matar a Lava-Jato, Jair Bolsonaro tem ainda demonstrado reiteradamente sua falta de compromisso com todas as promessas de campanha", disse.
Um dos atores mais atuantes no processo que culminou na eleição de Jair Bolsonaro, o ex-procurador lavajatista, que hoje atua como advogado no setor de "compliance", afirma ainda que "salvo a aprovação da reforma da Previdência — que lhe foi imposta goela abaixo —, todos os seus atos na Presidência da República têm tido como objetivo apenas a sua sobrevivência e a da sua família, seja ao se aproximar do Centrão e evitar um processo de impeachment, seja livrando seus filhos das ameaças da prisão".
"E nisso a Lava-Jato incomodava, pois a investigação representa ainda para boa parte da população o que Bolsonaro mais teme: a responsabilização criminal dos poderosos", emenda Santos Lima.
Ao final, o lavajatista elenca os "inimigos" da força, após listar os "malfeitos" de Bolsonaro, entre eles, "forçar a saída de Sergio Moro do ministério ao intervir indevidamente na Polícia Federal".
"Ao revelar como a política funciona, a Lava-Jato deu nome a alguns dos principais responsáveis por aquela sensação difusa das manifestações de rua de 2013 de que algo de muito errado acontecia no país. Ao fazer isso, a operação desnudou diversos esquemas e avançou em várias frentes de investigação pelo Brasil, que tentam sobreviver contra as armadilhas de Renans, Maias, Gilmares, Toffolis e Bolsonaros".