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Os recentes elogios do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, a bandeirantes e donatários tem um simbolismo duplamente deplorável.
Essencialmente, Mourão reforça a ideia de que as entradas e bandeiras, as primeiras, expedições patrocinadas pelo reino de Portugal, as segundas, por mercadores privados, foram um movimento civilizatório - e não a barbárie de violência, ganância e escravidão que realmente foram, nos séculos XVI e XVII.
Como pano de fundo, o elogio do general, ele mesmo, um caboclo miscigenado de fortes traços indígenas, reflete a submissão doutrinária dos militares à narrativa histórica oficial. Aliás, sem surpresa alguma: na campanha eleitoral de 2018, Mourão disse que o brasileiro herdou a "indolência" do índio e a "malandragem" do africano.
Um oficial general repetir essa cantilena racista, no alvorecer do século XXI, é, antes de tudo, um desalento. Mas explica muito da inércia do Exército e, por extensão, das Forças Armadas, diante da destruição moral e patrimonial do Brasil promovida pelo governo do qual Mourão é vice-presidente.
Mourão é a antítese do militar nacionalista, essa figura mítica que, por anos, habitou o imaginário popular da esquerda brasileira.
Não por outra razão, repete, como um papagaio, o discurso das elites nacionais que construíram o mito do bandeirante desbravador e do donatário empreendedor obrigados a conviver com a indolência dos índios e a malandragem dos negros por eles escravizados e esfolados, sertão adentro.
É esse tipo de militar que anos de isolamento e de não intervenção civil na caserna geraram: o ignorante motivado.