Atritos com a Lava Jato e humilhação a Bolsonaro: chega ao fim a trajetória de Raquel Dodge na PGR

Depois de duras tentativas em permanecer no cargo, Dodge deixa a PGR elevando a pressão sobre Augusto Aras e cobrando independência do órgão

Rachel Dodge em lançamento do Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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Depois de dois anos atuando como procuradora-geral da República, Raquel Dodge deixa o cargo nesta terça-feira (17) com uma gestão marcada por atritos com a Lava Jato e por humilhações perante o presidente Jair Bolsonaro (PSL) quando ainda tinha esperanças de ser reconduzida à PGR sem precisar concorrer à lista tríplice. Contrariando suas vontades, Dodge passará o bastão ao vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal, Alcides Martins, que assumirá a função interinamente. Se você curte o jornalismo da Fórum clique aqui. Em breve, você terá novidades que vão te colocar numa rede em que ninguém solta a mão de ninguém Em discurso nas vésperas de deixar o cargo, a procuradora adotou um tom duro, elevando a pressão sobre Augusto Aras, indicado por Bolsonaro para sucedê-la na PGR. Dodge aproveitou para defender a autonomia do Ministério Público e alertar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para as ameaças que a democracia no Brasil tem sofrido, cobrando deles a responsabilidade de defender a Constituição e as minorias. O discurso foi proferido dias depois de comentário do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho “02” do presidente, de que não se terá transformações rápidas no país por vias democráticas. Duramente criticada por reduzir o ritmo de delações premiadas, abertura de inquéritos e de denúncias contra políticos na Lava Jato, Dodge comprou briga com procuradores e gerou um episódio de demissão coletiva por seu posicionamento. Seis procuradores do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR pediram demissão como mobilização contra Dodge em agosto deste ano. Raquel Branquinho, Maria Clara Noleto, Luana Vargas, Hebert Mesquita, Victor Riccely e Alessandro Oliveira enviaram uma mensagem informando sobre demissão coletiva dos cargos que exerciam na Lava Jato no Rio de Janeiro e em Curitiba. No texto, o grupo diz que há “grave incompatibilidade” com uma manifestação de Dodge pediu para arquivar trechos da deleção de Léo Pinheiro que envolviam Rodrigo Maia e irmão de Dias Toffoli. Apesar das críticas, a procuradora reiterou que, durante seu mandato, “nunca faltou apoio para as investigações e para as forças-tarefas do MPF”. Outro motivo de descontentamento do MPF com Dodge, além de sua grande centralização no cargo e por emperrar investigações, foram suas inúmeras tentativas de recondução fora da lista tríplice. Desde 2003, o governo federal indica um novo procurador com base nessa lista formada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) após eleição realizada entre procuradores. Raquel Dodge já passou por esse processo duas vezes, sendo nomeada por Michel Temer. Neste ano, no entanto, ela não disputou a eleição interna. O motivo principal foram os atritos com os membros da Lava Jato. Porém, costurava uma nomeação por fora do processo eleitoral, através de indicação direta de Bolsonaro. Para tanto, Dodge se humilhou perante o presidente e segurou por mais de 120 dias investigações sobre ele ao mesmo tempo em que articulava a recondução ao cargo de chefe do Ministério Público Federal por mais dois anos. Só depois que seu nome perdeu força na recondução ao cargo, a procuradora desengavetou os processos e os mandou de volta à primeira instância. Augusto Aras O provável substituto de Dodge no comando da PGR, Augusto Aras, não estava na lista tríplice elaborada pela Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) e foi indicado por um aliado de Bolsonaro investigado por corrupção. Ele é o primeiro nome, desde 2003, a ser escolhido fora da lista da ANPR e ainda tem que passar pela chancela do Senado Federal.