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Por Clara Assunção, na Rede Brasil Atual
“Vereador Gilberto Natalini, é isso né? É o Brilhante Ustra. Vereador Gilberto Brilhante Ustra Natalini.” Foi numa alusão a um dos maiores torturadores da ditadura civil-militar (1964-1985) que o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Eduardo Tuma (PSDB), buscou se referir ao seu colegar Gilberto Natalini (PV) durante sessão ordinária realizada no Plenário 1º de Maio nesta quinta-feira (15), no Legislativo Paulista.
Era o início da sessão, momento em que os vereadores marcavam presença no painel eletrônico, quando o presidente da casa, que na Casa tem fama de “brincalhão”, fez a comparação, de imediato rebatida pelo parlamentar: “Não brinca com coisa séria”.
A advertência não foi à toa. Natalini foi uma das vítimas do comandante do DOI-Codi, um dos principais centros de repressão do regime militar. Nas mãos de Ustra e sua equipe, o vereador, na época estudante de Medicina, sofreu tortura com choque elétrico, paulada nas costas, chicoteamento, entre outras séries de práticas que descreve, sempre dolorosamente, ao recortar os fatos à imprensa.
Ainda assim, preferiu avaliar a declaração de Tuma como uma “brincadeira de mau gosto”, sem criar polêmicas. “Não creio em maldade do presidente da Câmara. Ele brincou, numa hora errada e com um assunto errado”. “Digo isso porque é um assunto delicado, nerval, não só para mim, que fui vítima, mas para o país”, pondera o vereador.
Além do jeito “brincalhão”, Tuma também é conhecido por ser sobrinho do senador Romeu Tuma, morto em 2010, que foi ainda diretor-geral do Dops, outro órgão da repressão, que também institucionalizava a tortura. Mas, apesar do histórico, para Natalini a fala de Tuma está inscrita em outro contexto, considerando que o presidente da República que não faz questão de esconder sua admiração pela período da ditadura e por torturadores como Ustra.
“(Jair) Bolsonaro está banalizando o assunto de uma forma nociva, e abre espaço para esse tipo de coisa, em que as pessoas menos avisadas podem brincar, de uma maneira ruim, com um assunto tão grave e tão sério. Ele faz uma apologia à bestialidade, à barbárie, e é claro que isso influencia o país’, afirma o vereador.
Na esteira de acontecimentos como as declarações ofensivas dirigidas ao presidente da Ordem dos Advogados (OAB), Felipe Santa Cruz, da troca de membros do Comitê Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, além do histórico de falas exaltando o torturador Ustra, Natalini já tinha vindo a público, pelo jornal Folha de S. Paulo, no último domingo (11), para protestar.
Sob o título “Ustra era um monstro que me torturava com choque e ria”, o vereador faz um relato do período que, sempre que tem oportunidade, destaca aos seus colegas na Câmara Municipal. É em parte por isso que afirma não acreditar que a colocação de Tuma possa despertar provocações do tipo. Da mesma forma que prefere desmerecer a onda de revisionismo histórico – que tenta ganhar força, por exemplo, quando o presidente alça Ustra à figura de “herói nacional”.”É muito difícil jogar uma pá de cal em cima de uma história tão tenebrosa como é a história da ditadura brasileira e dos seus torturadores. Bolsonaro não tem direito de tripudiar em cima do sofrimento das pessoas e reviver ditadura e torturadores”.
À RBA, Eduardo Tuma preferiu declarar sobre o caso, por meio de sua assessoria de imprensa, que “sempre respeitei e respeito o vereador Gilberto Natalini”.