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POLÍTICA
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A cantora, compositora e cineasta Ava Rocha, filha de Glauber Rocha, publicou em seu Instagram, nesta terça-feira (23), um texto, no qual enaltece a obra do pai e diz que “ninguém poderá desvirtuar seu pensamento e sua história” e “que sua verdade possa nos inspirar e nunca rastejaremos na percepção sensacionalista daqueles que o incluem no mostruário de seu projeto para o Brasil: a fome e a injustiça”.
A mensagem é claramente dirigida a Jair Bolsonaro, que inaugurou nesta terça o aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA). No entanto, transformou a homenagem ao cineasta em um evento político-partidário, onde só puderam participar os aliados do presidente.
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O evento foi fechado com tapumes, sem a presença da população e da outra filha do cineasta, Paloma Rocha, que cancelou sua participação, depois dos ataques de Bolsonaro ao povo nordestino.
O governador baiano, Rui Costa (PT), também não esteve presente. “Não esperava na vida ver um presidente falar tanta baixaria”, disse Rui Costa, que teve o avião proibido de pousar no aeroporto, sobre as declarações de Bolsonaro.
Veja abaixo a íntegra do texto de Ava Rocha:
Meu pai Glauber Rocha foi um visionário, que previu, junto a outros intelectuais como Darcy Ribeiro, a abertura no Brasil, um país ao qual amou profundamente (e pelo qual morreu) e de onde emergiu a potência libertária e revolucionária da sua obra, viva, atual e luminosa. Nada nem ninguém poderá desvirtuar seu pensamento e sua história, cravada em seus filmes, escritos, entrevistas, enfim em toda sua trajetória, repito visionária, revolucionária e libertária.
O que importa é sua força inabalável e o resto é perversão, tentativa de usar deuses para causas vulgares. Justamente nesse momento de perda da memória, de retrocesso, onde a cultura e todo o âmbito da dignidade humana é atravessado por uma consciência sórdida, nesse ano que Glauber faria 80 anos e é homenageado no aeroporto de sua terra Vitória da Conquista, faz-se necessário não transformar o uso indevido de seu nome para propósitos políticos e ideologistas, de um homem que não mais está aqui, e sim celebrar e reincendiar sua visão de um Brasil liberto, que deve estar ao lado dos que sonham e lutam, com a coragem e a entrega que ele manifestou em vida.
Que sua verdade possa nos inspirar e nunca rastejaremos na percepção sensacionalista daqueles que o incluem no mostruário de seu projeto para o Brasil: a fome e a injustiça. Para quem não sabe ou tem dúvidas, veja seus filmes e sua obra (aqui posto um fragmento do programa abertura). VEJAM E REVEJAM. E façam dela instrumento, arma, amuleto de sobrevivência e revolução.
Glauber Rocha é luz, é daqueles seres que passam pela terra para semear e amar, para destampar a vala da escuridão. Meu pai já partiu daqui faz 38 anos, e toda e qualquer forma de manter sua memória viva em benefício da cultura brasileira e mundial, é saudável e importante. Eu e meus irmãos, em memória também de minha vó Lúcia, e portanto sertão/brasil/mundo, carregaremos seus ensinamentos e seremos depositários de suas sementes. Sua obra permanece mais que atual, ela atravessa os tempos, como disse ele era um visionário e seus filmes são as veias abertas desse Brasil que vivemos. Mais forte são os poderes do povo! E da verdade! Saravá, Glauber! Liberdades totais!