Entidades repudiam decisão de Bolsonaro que exclui sociedade civil do Conselho Nacional de Drogas

Juristas, médicos e psicólogos não fazem mais parte do grupo

Foto: Mídia Ninja
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O presidente Jair Bolsonaro extinguiu através de decreto as 13 vagas da sociedade civil do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad). Com isso o órgão, criado em 2006 para analisar e aprovar políticas públicas sobre entorpecentes, passa a ter apenas 14 cadeiras. Doze deles serão ocupadas por ministros ou indicadas de ministérios e integrantes de conselhos estaduais de drogas. Organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Marcha da Maconha se manifestaram contra a decisão presidencial. O ministério da Justiça e da Segurança Pública defendeu a reformulação indicando que a medida busca uma modernização para a entidade. “A nova estrutura de funcionamento do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) moderniza a interlocução com a sociedade e com os diversos órgãos públicos envolvidos nas políticas antidrogas. A criação de um Grupo Consultivo, previsto no Decreto 9926/2019, permitirá a participação efetiva de seis especialistas na área de políticas sobre drogas”, diz a nota divulgado pelo ministério. Leia também Debate sobre drogas não pode restringir a crenças em detrimento da ciência, diz conselho de Psicologia sobre Conad A OAB tinha cadeira fixa no Conselho e foi também uma das entidades excluídas por Bolsonaro. Em resposta, a entidade afirma, por meio da Comissão Especial de Segurança Pública, que está preocupada com as mudanças diante de um tema tão complexo como a política de drogas no Brasil. "O tema é de grande complexidade e gravidade, com um número elevado de brasileiros que sofrem com as drogas, principalmente os jovens. Essa situação demanda um esforço que só poderá ter resultados com o envolvimento da sociedade civil, estudiosos e especialistas para o enfrentamento do problema, com o aprofundamento do debate sobre ações e políticas efetivas sobre drogas", conclui a nota da OAB. Ativistas recifenses da Marcha da Maconha também expressaram preocupação com uma medida que segundo o grupo, é um retrocesso depois de anos de construção de políticas afirmativas que tratam a questões das drogas como um tema de saúde pública e não de segurança do Estado. “Esta decisão autoritária e irresponsável demonstra não apenas falta de respeito pela democracia e as instituições democráticas , mas profundo desconhecimento sobre a complexa temática que é a política sobre drogas. Negando a ciência e o direito, o presidente retrocede no tempo e na história, jogando no lixo anos e mais anos de construção coletiva no espaço publico o debate sobre política de drogas”, diz nota. Leia também Bolsonaro diz que mudança no conselho sobre drogas é para acabar com “viés ideológico” Na opinião do pesquisador da Universidade Federal de São Paulo, Renato Filev, retirar as entidades que representam diferentes grupos da sociedade que debatem as questões das drogas é uma ataque que fere os preceitos democráticos, já que exclui a participação popular das discussões de temas comuns. “Essa é uma medida que preocupa não só as entidades, mas toda a sociedade. Já que a atual política que vem sendo debatida e questionada. Barraram a pesquisa da Fiocruz. Isso mostra como a política de drogas está sendo antidemocrática, tirando o foco dos direitos humanos e enfatizando uma política bélica”, afirma. Júlio Delmanto, ativista do coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR), lembra que o governo Bolsonaro é ligado a setores que tem interesse na repressão cada vez maior do uso de drogas no país. “Todos esses grupos, juntando o conservadorismo moral e o lado empresarial. Até a maconha medicinal e quase discriminalização que estava iminente no Supremo Tribunal Federal esse governo conseguiu barrar”.