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Desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dados preocupantes sobre o desmatamento da floresta amazônica, Jair Bolsonaro trava críticas ao órgão e ao diretor Ricardo Galvão. Nesta sexta-feira (19), Bolsonaro disse que os dados não condizem com a realidade e "prejudicam o nome" do Brasil. Neste domingo (21), novamente reforçou a colocação, em entrevista à imprensa em Brasília.
De acordo com matéria de Mariana Haubert e Giovana Girardi, do Estado de S.Paulo, Bolsonaro declarou deveriam ser tratados internamente com o Ministro do Meio Ambiente antes de divulgar amplamente. “No mínimo, se o dado fosse alarmante, ele [Galvão] deveria, por questão de responsabilidade, respeito e patriotismo procurar o chefe imediato, no caso o ministro e [dizer]: 'olha ministro, temos uns dados aqui, a gente divulgar, porque devemos divulgar, o senhor se prepare porque vai ter alguma uma crítica'. Assim que deve ser feito e não de forma rasa como ele faz, que coloca o Brasil em situação complicada. Um dado desse aí, da maneira de divulgar, prejudica a gente”, disse o presidente.
Defesa da comunidade científica
No sábado (20), Ricardo Galvão rebateu os comentários: "Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País”. Enquanto isso, hoje o Conselho Superior da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou um manifesto em apoio ao INPE. O documento é assinado pelo presidente da entidade, o físico Ildeu Moreira, e diz que as críticas de Bolsonaro são "sem fundamento", "ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico". O texto também ressalta que "Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza".
Confira a nota na íntegra:
O Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, em reunião realizada no dia 20/07/2019, deliberou por unanimidade manifestar seu apoio integral ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, dirigido pelo Dr. Ricardo Galvão, face às críticas do trabalho do INPE de monitoramento do desmatamento da Amazônia brasileira, apresentadas em entrevista à imprensa internacional pelo Presidente da República, Sr. Jair Messias Bolsonaro.
Conforme carta das principais entidades nacionais representativas da ciência brasileira, enviada ao Presidente Bolsonaro no dia 10/07/2017 (OF. ABC-97/2019), a ciência produzida pelo INPE está entre as melhores do mundo em suas áreas de atuação, graças a uma equipe de cientistas e técnicos de excelente qualificação, e presta inestimáveis serviços ao País. O Diretor do INPE, Dr. Ricardo Galvão, é um cientista reconhecido internacionalmente, que há décadas contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil. Críticas sem fundamento a uma instituição científica, que atua há cerca de 60 anos e com amplo reconhecimento no País e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico.
Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza. Desmerecer instituições científicas da qualificação do INPE gera uma imagem negativa do País e da ciência que é aqui realizada. Reafirmamos nossa confiança na qualidade do monitoramento do desmatamento da Amazônia realizado pelo INPE, conforme a carta anteriormente enviada ao Presidente da República, e manifestamos nossa preocupação com as ações recentes que colocam em risco um patrimônio científico estratégico para o desenvolvimento do Brasil e para a soberania nacional.
Ildeu de Castro Moreira
Presidente da SBPC