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Por Cida de Oliveira, na Rede Brasil Atual
Ministra do Meio Ambiente no governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2008), Marina Silva (Rede) desconstruiu nesta quarta-feira (8) a tese de Jair Bolsonaro (PSL) e de seu ministro Ricardo Salles (Novo) de que a preservação ambiental atrapalha o desenvolvimento. "Quando o Brasil crescia 3% ao ano e a agricultura 2%, o desmatamento caía. E quando participávamos dos fóruns internacionais e alguém dizia que não iam comprar nossos produtos porque aqui tinha desmatamento, mostrávamos gráficos que mostravam que o desmatamento caía e a nossa economia crescia."
Marina Silva participou de reunião inédita, com a presença de Rubens Ricupero, ministro no governo Itamar Franco; Sarney Filho, que participou dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) e Michel Temer (2016-2018); José Carlos Carvalho, do governo de Fernando Henrique; Carlos Minc, que substituiu Marina no governo Lula; Izabella Teixeira, sucessora de Minc, que foi ministra também no governo de Dilma Rousseff; e Edson Duarte, ministro no último ano do governo Temer.
Os ex-ministros formam uma frente suprapartidária que pretende definir agenda de debates sobre o tema com o Congresso Nacional, a Procuradoria Geral da República, Tribunal de Contas da União e demais instâncias nacionais e até internacionais.
"Agora, em pleno crescimento baixíssimo, de 1%, nós temos o desmatamento aumentando", disse em coletiva de imprensa logo após reunião com ex-ministros do Meio Ambiente no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) para avaliar as políticas do governo e seus impactos.
Em janeiro de 2019, a Amazônia Legal perdeu 108 quilômetros quadrados de florestas, o que representa aumento de 54% em comparação ao mesmo período de 2018.
Para a ex-ministra, o governo Bolsonaro pretende acabar com o Sistema Nacional de Meio Ambiente. "É um absurdo quando além de não criar novas unidades, o governo fala em ‘descriar’ as que já foram criadas. Na minha gestão nós criamos mais de 24 milhões de hectares de unidades de conservação, cumprimos planos encaminhados por nossos antecessores e conseguimos que o desmatamento caísse 80% em dez anos consecutivos".
Marina destacou também a descontinuidade de políticas que tornaram o Brasil protagonista em uma agenda que evitou que 4 bilhões de toneladas de gás carbônico, de efeito estufa, fossem para a atmosfera. Entre eles, o Plano ABC – Agricultura de Baixa Emissão de Carbono –, composto por programas e ações para mitigação e de adaptação às mudanças climáticas, como a recuperação de pastagens degradadas, sistemas agroflorestais, plantio direto, florestas plantadas e tratamento de dejetos animais, entre outros.
"E agora há todo esse retrocesso no país que sediou a Rio+20, a Convenção da Biodiversidade e que ajudou a conceber o plano de desenvolvimento limpo no âmbito do Protocolo de Kyoto", criticou.
Demarcação
Marina chamou atenção também para o "discurso populista irresponsável" de campanha ao qual Bolsonaro se mantém fiel. "Este é o primeiro governo que assume dizendo que não vai demarcar um centímetro de terra indígena, que ataca aquilo que é estratégico para qualquer país, a educação e o meio ambiente. É impossível ter desenvolvimento no país que depende dos recursos naturais para ser a potência na produção agrícola, de minério, de geração de energia."
A ex-ministra considera que a sociedade e o setor empresarial devem se engajar contra o desmonte da política ambiental, a exemplo dos 602 cientistas estrangeiros que assinaram carta pedindo que os países da União Europeia condicionem acordos comerciais com o Brasil a medidas de preservação ambiental.
"Já tivemos o alerta de países sobre o acordo de livre comércio entre Brasil e Europa, em função de questões ambientais e de direitos humanos, e de mais de 600 cientistas em relação à questão dos acordos comerciais. Logo, logo, será o Japão. A China tem avançado na agenda ambiental, ainda que não seja uma democracia. E aqui temos uma democracia que está querendo retroceder não só na agenda ambiental, de direitos humanos, mas também na democracia."
Para ela, a defesa do Ricardo Salles do fim do ICMBio reflete um momento mais que difícil. "É um momento de nonsense. Estão fazendo coisas que as consequências serão dramáticas para a ecologia, para a sociedade e para a economia".