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Por Mara Telles* no Facebook
Não levem a sério meus posts nestes dias. Eu tô com muita raiva e me sentindo impotente. Trabalhei desde os 16 anos. Sempre sem carteira assinada. Fui bolsista de Iniciação Científica. Depois Bolsa de Aperfeiçoamento, que nem existe mais. Após, bolsa de Mestrado e Doutorado.
Enquanto fazia pesquisas, nunca me lembrei de pagar INSS. Fui bolsista de ProDoc no Nordeste, Programa que nem existe mais. Passei a vida feito caixeiro viajante, em busca de oportunidades de trabalho e com minha filha na mala. Rodei o Brasil: onde tinha dinheiro, eu corria atrás. Fui de SP ao Nordeste.
Passei num concurso pra Federal, embora ganhasse o triplo no mercado, em São Paulo. Fiz pós-doutorado, com bolsa da Capes e da Espanha. Voltei várias vezes praquele pais com recursos da Espanha.
Hoje não tenho nada.
Não sobrou uma só pedrinha pra pagar os estagiários de pesquisa. A grana sumiu. Ganho muito menos que se estivesse optado por continuar no mercado. Um agregado do Ministro diz que somos ensinadores de Pedofilia e Incesto. Outro diz que estamos pelados, apesar de eu ter pelancas soltas por ficar horas sentadas defronte ao computador.
Não tenho esperança no povo que elegeu um Fascista, nem nos partidos nem nos jovens individualistas lacradores.
Eu só sinto raiva e impotência por ter passado a vida toda dedicada à pesquisa e terminar minha vida pobre, falida, acusada de “incesto” pelo governo, processada pela universidade por não me “dedicar” exclusivamente a ela, sem nenhuma esperança de sair do cheque especial.
O mundo que eu vivia acabou. Eu não sirvo mais pro meu país. Sou apenas uma professora pelancuda, pelada e Comunista doutrinando alunos. Quem não se toca em ser descrito assim não tem mais alma.
Fim.
*Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política/Fafich/UFMG