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Após muita polêmica e 13 sessões, a Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte (MG) aprovou, nesta segunda-feira (14), em primeiro turno, o projeto Escola sem Partido. O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), que é mineiro, lamenta que no Dia dos Professores a pauta seja um retrocesso em relação à educação, e não avanço. “O Brasil foi formado a partir do sincretismo e não pode tolerar uma nova ‘colonização’, ou seja, a imposição de um pensamento único que está a serviço das desigualdades”, reflete.
Confira a íntegra da entrevista.
Fórum - Como observa mais esse ataque à educação, à cidadania e aos professores?
Reginaldo Lopes - É muito triste que no Dia dos Professores estejamos discutindo um retrocesso e não um avanço para essa profissão tão importante, que forma todas as outras e que nos prepara para a vida. A votação do primeiro turno do Escola sem Partido não contou com a presença da população, que foi impedida de entrar no local. O nome do projeto pode confundir, mas é justamente uma escola “com partido” que planejam impor; uma escola com pensamento único, que não respeita a diversidade de pensamento, como a diversidade religiosa, por exemplo. O Brasil foi formado a partir do sincretismo e não pode tolerar uma nova “colonização”, ou seja, a imposição de um pensamento único que está a serviço das desigualdades. Defendo uma educação plural, inclusiva e emancipadora, como deve ser.
Fórum - Justamente no Dia dos Professores, o que dizer a eles diante desse quadro de retrocessos na educação?
Reginaldo Lopes - A verdade. O bolsonarismo elegeu como inimigo justamente o pensamento crítico brasileiro e quem forma esse pensamento são os professores. O governo é de fanáticos, que questiona a ciência e a democracia. Mas também é verdade que as maiores manifestações contrárias a esse governo foram em defesa da educação. A sociedade sabe que os professores e professoras não são culpados pelos problemas da educação no Brasil, como o presidente da República tenta fazer parecer. Deixaria uma mensagem de esperança e de resistência. Nunca precisamos tanto dos professores e professoras, formadores do tão necessário pensamento crítico.
Fórum - Na lista de deveres do professor no projeto Escola sem Partido constam orientações que o impedem de discutir e debater temas, como política, ideologia, questões de gênero ou religião. O que representa isso para a conduta do professor em sala de aula?
Reginaldo Lopes - Cabe aos professores e professoras fazer seu trabalho, o que eu acho que eles fazem bem, a despeito, muitas vezes, da falta de reajuste e de condições mínimas de trabalho. O problema da educação no Brasil não é pela atuação dos educadores e educadoras, e sim pela falta de valorização da profissão, pela falta de investimentos públicos - congelados pela política do teto dos “gastos”, e pela falta de crença na importância da ampliação das vagas nos institutos e universidades federais, por exemplo.
Como está a questão do Escola em Partido em âmbito federal e como evitar mais retrocessos na educação?
Reginaldo Lopes - O projeto foi desarquivado este ano na Câmara dos Deputados e pode voltar a tramitar por meio de uma Comissão Especial. Para evitar esse e demais retrocessos é preciso mobilizar a sociedade, sair da zona de conforto e ir para a luta. A educação brasileira é cara demais para deixarmos ser destruída. Não toleraremos a perseguição a educadoras, educadores e à liberdade de cátedra.