Julián Fuks: “Nós dizemos não”

País nenhum saiu de uma crise por meio de sua própria supressão, com o exercício livre do abuso e do arbítrio. País nenhum viu luz com tal mergulho na escuridão

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[caption id="attachment_140597" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução/YouTube[/caption] Por Julián Fuks* É melhor já ir se acostumando, dizem alguns. Nós dizemos não. Não vamos nos acostumar com a intolerância, a brutalidade retórica, a violência efetiva, o extermínio simbólico ou real das minorias, dessa multidão que nada tem de menor. É preciso uma ação enérgica, dizem alguns. Nós dizemos não. Não acreditamos em nenhuma ação de subjugação do outro, de aniquilação da diferença, não aceitamos a energia empregada para a opressão. Ele defende a família, dizem alguns. Nós dizemos não. Uma família não tem normas estritas de configuração, não responde a uma cartilha qualquer. Uma família pode ter incontáveis formas, e ninguém a defende se não respeita sua amplidão. Mas ele vai nos livrar de toda esta corrupção, dizem alguns. Nós dizemos não. Ninguém jamais abateu a corrupção sozinho, por voluntarismo pessoal. Corrupção se combate em esforço coletivo, com os recursos mais transparentes de vigilância e supervisão. Mas ele vai nos tirar desta crise, dizem alguns. Nós dizemos não. País nenhum saiu de uma crise por meio de sua própria supressão, com o exercício livre do abuso e do arbítrio. País nenhum viu luz com tal mergulho na escuridão. Mas é preciso alguém de pulso firme, dizem alguns. Nós dizemos não. Hitler não, Mussolini não, Franco não, Salazar não, Pinochet não, Videla não, Médici não, Geisel não, Netanyahu não, Trump não. Ele não. #elenão *Julián Fuks é escritor e crítico literário