Alckmin: o mesmo que tentou fechar escolas promete investir em Educação

Programa de governo do tucano é cheio de contradições: ao mesmo tempo em que fala sobre “tolerância zero” diante da corrupção, ele teve de prestar depoimento no MP sobre a acusação de receber R$ 10,3 milhões da Odebrecht em caixa 2

Tropa de Choque no momento da desocupação do prédio da reitoria da Unesp (Foto Mídia Ninja)
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O candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, resumiu, em nove páginas, seu programa de governo, intitulado “Um futuro de prosperidade está aberto a todos os brasileiros”. Carregado de incoerências, o texto tucano cita em um dos trechos: “Investiremos na educação básica de qualidade e teremos como meta crescer 50 pontos em oito anos no PISA – o mais importante exame internacional de avaliação do ensino médio”.

É, no mínimo, curioso que o mesmo Alckmin que tenta passar a ideia de que deseja investir em educação de qualidade, enquanto governador, foi investigado, até pela Corte de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) por usar de truculência policial, tortura e outros abusos contra estudantes que ocuparam escolas estaduais, em 2015.

O plano de Alckmin, chamado de reorganização escolar, representava, na verdade, um desmonte do sistema de ensino público paulista. Na época, o então secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, admitiu que o plano poderia fechar até mil escolas, o que atingiria 2 milhões de estudantes. Até o outubro daquele ano, 155 escolas já tinham recebido comunicados sobre o fechamento.

Isso só não foi em frente devido à resistência corajosa e mobilizadora dos estudantes secundaristas. Eles ocuparam mais 220 instituições estaduais de ensino, inclusive a Assembleia Legislativa do estado, resistiram 55 dias, inclusive à violência policial, mas conseguiram forçar o tucano a suspender o projeto. A iniciativa dos estudantes acabou virando documentário.

Professores

Ainda no tópico Educação, o tucano diz em seu programa: “A revolução na educação básica requer um sério investimento na formação e qualificação dos professores. Vamos transformar a carreira do professor numa das mais prestigiadas e desejadas pelos nossos jovens”.

Difícil acreditar. Alckmin promete investir na qualificação de professores, mas, quando era governador, ficou conhecido por pagar salários baixos e não respeitar o direito de protestos da categoria. Tanto que a juíza titular da 4ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Celina Kiyomi Toyoshima, concedeu liminar favorável aos professores paulistas, impedindo o tucano de descontar os dias parados em virtude da greve iniciada em 16 de março de 2015.

Além disso, durante muito tempo, seu governo não cumpriu a lei nacional que determinava o piso salarial para a categoria. Segundo informações do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), o reajuste salarial anunciado em janeiro de 2017 para professores da primeira etapa do ensino fundamental nada mais era do que uma medida “obrigatória", uma vez que Alckmin pagava, até então, menos do que o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) para a categoria. O reajuste para os professores de 1º a 5º ano (chamados PEB I) foi de 10%, com variação salarial de R$ 2.086,93 para R$ 2.298,80, valor equivalente ao piso nacional. Portanto, em 2016, o salário de PEB I estava abaixo do piso.

Corrupção

Em outro trecho, o programa de governo relata: “O Brasil precisa se livrar dos males da corrupção e do Estado ineficiente”. Alckmin só “esqueceu” de mencionar que na tarde desta quarta-feira (15) teve de prestar depoimento ao Ministério Público de São Paulo, na 9ª Promotoria do Patrimônio Público e Social, sobre a acusação de receber R$ 10,3 milhões da empreiteira Odebrecht em caixa 2. Segundo três delatores da empreiteira, o dinheiro teria servido para as campanhas de 2010 e 2014, quando o tucano concorreu ao governo de São Paulo. A investigação está sob sigilo.

Além disso, promete transparência e redução das desigualdades sociais, outros requisitos pelos quais as administrações tucanas não primam: “O Brasil precisa se livrar dos males da corrupção e do Estado ineficiente, que sorve dinheiro do povo por meio de impostos elevados e oferece serviços públicos de baixa qualidade. O Brasil precisa se tornar um país mais justo, onde a igualdade de oportunidades seja assegurada pela educação pública de qualidade e por programas sociais que assegurem uma vida digna aos mais vulneráveis”.

Segurança

Como não poderia deixar de ser, o programa de governo propõe “soluções” para o setor de segurança: “Reduzir o número de homicídios, engajando estados e municípios para reduzir a taxa de homicídios para, pelo menos, 20/100 mil habitantes. Combater o crime organizado e o tráfico de armas e drogas com a integração da inteligência de todas as polícias”.

Outra contradição. Na administração Alckmin, o número de civis mortos por policiais atingiu o índice recorde de 939 casos em 2017. Os roubos de cargas avançaram 287% entre 2002 e 2017, de 3.686 para 10.584 ocorrências. A população carcerária de São Paulo é a maior do Brasil, com 250 mil presos. Delegacias, principalmente no interior do estado, fecham as portas, o que provoca aumento significativo de crimes: acima de 396 mil casos.

Portanto, o plano de governo de Geraldo Alckmin repete o discurso cheio de promessas de outras oportunidades. O problema é que quando se observa o passado do homem que comandou a política no Estado de São Paulo por quase duas décadas, pode-se perceber a dificuldade em acreditar nesses compromissos assumidos antes das eleições. Confira aqui a íntegra do plano de governo do tucano