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[caption id="attachment_134931" align="alignnone" width="748"] Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula[/caption]
Por Daniel Trevisan Samways*
No dia 24 de janeiro, saímos do interior do estado rumo à capital para acompanhar o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula. Havia uma pequena crença de que o resultado poderia ser dois votos contrários e um favorável, aumentando os recursos, os chamados “embargos”. Alguns setores afirmavam que o TRF-4 seria mais ponderado do que o juiz de província Sérgio Moro, acreditando até numa possível absolvição.
Antes mesmo da chegada, fomos surpreendidos por uma notícia falsa – que, posteriormente, se confirmaria – de que o resultado já era de três votos contrários a Lula. Isso antes do voto do revisor, o desembargador Leandro Paulsen. O resultado, contudo, foi desfavorável a Lula, com aumento da pena e a unanimidade da condenação em segunda instância.
A partir daquele momento, a candidatura de Lula estava ameaçada pela Lei da Ficha Limpa. Pior, sua prisão poderia acontecer em breve. E aconteceu antes do previsto. Com todas as manobras no julgamento do Habeas Corpus de Lula, antecipado em relação à decisão sobre a prisão em segunda instância, assistimos Rosa Weber votar contra sua própria convicção para acompanhar a maioria formada por ela mesma. Peculiaridades de nossa justiça.
Faço essa breve reflexão para pensarmos juntos no quanto depositamos, nos últimos meses, esperanças infundadas no judiciário brasileiro, esperando que julgasse conforme as leis e mediante provas. Caberia a ele provar que Lula era culpado. Isso não aconteceu e mesmo assim ele foi condenado por um “ato de ofício indeterminado”. Moro afirmou que Lula cometeu algum crime, mas não disse qual, e o TRF-4 confirmou.
Talvez estejamos cometendo o mesmo erro ao acreditar que a justiça será feita e que Lula conseguirá disputar a eleição em outubro, já que os prazos para recursos se estenderão até meados de novembro. Já combinamos isso com os russos?
A justiça brasileira deu sinais mais do que claros de que a lei não vale para Lula. Seu processo furou a fila na segunda instância, o revisor leu milhares de páginas em poucos dias, a prisão foi decretada antes de encerrados todos os recursos e pessoas foram impedidas de visitar o ex-presidente. Em tempo recorde, entre a denúncia e o julgamento, Lula foi condenado em segunda instância.
A manutenção da candidatura de Lula é, a meu ver, correta. Ele empurra as estruturas brasileiras e demonstra sua força, controlando a eleição. Ao mesmo tempo, ele escancara a injustiça sofrida e a perseguição da qual é vítima. Lula é um preso político.
Contudo, o momento é extremamente delicado. Bolsonaro lidera as pesquisas sem Lula e o número de indecisos é extremamente alto. Isso é um sinal de que as pessoas estão desconfiadas ou descrentes do processo, mas também perdidas, sem saber em quem votar na ausência de Lula. Apostar que Bolsonaro irá derreter durante o processo também pode ser perigoso. Parte da militância está jogando como se a partida já estivesse ganha e que Lula subirá a rampa do Planalto em janeiro, ignorando os motivos que levaram ao crescimento de Bolsonaro nos últimos meses. É seguro acreditar que ele vai desidratar num cenário de grande polarização?
Talvez seja o momento não de um plano B, mas de lançar um nome para compor uma dupla com Lula. Não um vice, mas um parceiro de chapa. O campo progressista possui excelentes nomes para tal tarefa.
Seria essa dupla a se apresentar para o eleitor o mais breve possível, com um programa de governo que almejasse tanto o desenvolvimento econômico e social, quanto novas e urgentes pautas, como acesso à moradia, direito à cidade, meio ambiente, democracia direta e participação popular. Lula, mesmo confinado em uma cela da Polícia Federal, tem condições de capitanear esse processo e atrair as massas, mas precisará de um parceiro para essa empreitada. O fascínio que exerce sobre a multidão e diferentes grupos sociais poderá ser utilizado para isso, mas carece de uma voz em um palanque.
Lula afirmou em seu último discurso antes da prisão que caminharia pelas nossas pernas, que seu coração bateria através dos nossos e que ele agora seria uma ideia. Precisamos de um nome para levar isso adiante. Alguém que, do lado de fora, caminhe junto com Lula. Alguém que possa caminhar em seu nome e por um novo projeto de nação.
*Daniel Trevisan Samways é graduado em História, com mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)