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“Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite (...)”.
Assim começa a carta de demissão de Pedro Parente, no estilo barroco-mercantilista que está entranhado nos modos dos tecnocratas fabricados pelo mercado. Revela certo saudosismo elitista, dos tempos em que a ocupação da máquina pública não sofria interferências por parte do populacho, na República Velha e, mais adiante, na ditadura militar.
Esses tempos que voltaram.
Até o mais desligado dos frentistas sabe que Parente foi demitido para servir de boi de piranha para um governo fraco, incapaz e desmoralizado por uma crise muito maior do que a da greve dos caminhoneiros: a de representatividade política e social.
Dentro desse rito de exoneração, Parente argumentou que seus acertos “vão muito além da política de preços”, uma visão economicista clássica sobre a função da coisa pública, a armadilha neoliberal que aplica a lógica privada em detrimento do valor social das estatais. Assim, o serviço do Estado ao contribuinte é substituído pelo universo positivo das planilhas de administração.
Parente afirma, na carta, que poucos - creio, além dele – conseguem enxergar o fato de que a política de preços da Petrobras reflete “choques que alcançaram a economia global”, o que quer dizer exatamente o que parece: nada.
Demissionário sob coação, Parente demonstra está metido em um paradoxo ideológico. “Meu compromisso é com o bem público”, escreve, logo ele, figurinha marcada desde a era de privatizações dos governos Fernando Henrique Cardoso, de quem foi companheiro fiel.
O único compromisso de Pedro Parente com o bem público sempre foi o de vendê-lo. O que, aliás, justiça seja feita, revela-se na sinceridade de uma de suas frases soltas, na carta de demissão: “O que prometi, foi entregue”.
Nem tudo, felizmente.
Por fim, Parente agradece, pela ordem: ao Conselho de Administração, aos colegas da Diretoria Executiva, à equipe de apoio direto (seja lá o que isso signifique), aos demais gestores da empresa, e a “toda força de trabalho” da Petrobras.
Não consegue usar as palavras “trabalhadores e trabalhadoras”, o que não é só mesquinho. É ridículo.