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“Parece que estou em um interrogatório policial”, esta frase do presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) durante a
sabatina conduzida pela Jovem Pan, na manhã desta quarta-feira (23), sintetiza a tentativa de massacre de uma biografia. A tão cobrada imparcialidade jornalística foi deixada de lado. Logo no começo, o historiador Marco Antonio Villa chamou o pré-candidato de "autor de atos criminosos". Villa passou boa parte da entrevista tentando associar Boulos à tragédia da queda do edifício no Largo do Paissandu, embora seja de conhecimento público que o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) não tinha nenhuma relação com a ocupação.
O colaborador da Jovem Pan tentou invalidar a participação de Boulos na organização e manifestação de pessoas sem moradia, perguntando onde vivia. O pré-candidato respondeu que é proprietário de um imóvel no Campo Limpo, mas que isso nada impedia a luta por justiça social. “Não é preciso ter fome para se solidarizar com quem tem fome, assim como não é preciso ser sem teto para se solidarizar com movimento das pessoas sem teto”, disse o filósofo.
Villa passou longos dez minutos tentando associar Boulos à tragédia no Largo do Paissandu, generalizando as ocupações de moradores sem-teto. Foi quando deixou qualquer comedimento de lado para chamar de “criminoso” o entrevistado. Boulos não entrou na provocação e seguiu com sua argumentação. Ele lembrou que o prédio estava abandonado e que a Constituição deixava clara que todo imóvel deve cumprir a função social, ou seja, estar ocupado.
O historiador tentou rebater, dizendo que tinha sim o direito de deixar um imóvel sem alugar, mas acabou se calando ao perceber que seu argumento estava equivocado. O Estatuto das Cidades, criado ainda no governo FHC (2000) deixa claro no artigo 182 que o dono de um imóvel pode sofrer sanções que vão desde aumento do IPTU até desapropriação. “As pessoas não ocupam porque querem, as pessoas ocupam porque não tem moradia”, disse Boulos. “São 3 milhões de pessoas sem moradia e 7 milhões de imóveis ociosos”, continuou o psolista.
Villa novamente questionou as informações e Boulos replicou objetivamente. “Estes são dados do IBGE. Se você quiser questionar o IBGE, procure as pessoas que pesquisaram”. Villa ficou novamente sem resposta.
Perguntado se coibiria invasões, caso vença a eleição presidencial, o líder do MTST voltou novamente à Constituição Federal. “Eu vou fazer a Constituição ser cumprida não só pela metade. A Constituição assegura o direito à propriedade e também diz que a propriedade deve cumprir uma função social. A desapropriação, sanção, (prevista no Estatuto das Cidades) é trocar terra por dívida. Não precisaria de nenhum centavo do orçamento. Nós não vamos resolver o problema da moradia com pancada, mas com política pública”, explicou.
Interrompido a todo o momento, Boulos ainda teve de ouvir do historiador adjetivos nada elogiosos como “déspota não-esclarecido”. A resposta veio no final da entrevista. Perguntado se ouvia o Jornal da Manhã, Boulos foi categórico. “Não ouço o programa. O Villa faz barbáries, faz ataques sem direito à defesa”.