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O diretor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, enviou, nesta segunda-feira (10), um email advertindo os jornalistas da emissora sobre o uso das redes sociais. Apesar de não citar nominalmente, ficou claro a todos que Kamel se referia a um áudio do jornalista Chico Pinheiro vazado em grupos de whatsapp.
“A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo”, escreveu no email Kamel.
Desde domingo (8), circula pelas redes um áudio com a voz do jornalista indignado com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nele, Chico Pinheiro, lembra a frase de Lula momentos antes de ser preso: “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia e ideia não se prende”.
Logo mais adiante, o jornalista acrescenta: "Realizaram o fetiche. O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi feito do jeito que eles queriam, mas o Lula foi. E agora? O que vão fazer agora? Como é que fica? Qual é o próximo passo? Que o Lula tenha calma e sabedoria, inspiração divina para ficar quieto onde ele está".
Chico Pinheiro ainda faz críticas à cobertura da GloboNews, sobretudo a legenda sobre fala de Cristiana Lôbo, “Sem Lula, PT precisa traçar novas estratégias”. De acordo com ele, “quem precisa criar novas estratégias são eles (os coxinhas). Vão fazer o que agora?”, pergunta.
Veja abaixo a íntegra do email de Ali Kamel:
"Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.
Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.
Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.
Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.
A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):
'A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:
(…) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.'
É com isso em mente que envio esse e-mail.