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No último sábado (3), o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), baixou um decreto que garante a ex-prefeitos proteção pessoal da Polícia Militar por um ano a partir do momento que deixar o cargo. Doria é um dos pré-candidatos do PSDB ao governo estadual. Ele concorre em prévias agendadas para o dia 18 de março, com segundo turno no dia 25. Caso seja escolhido candidato pela legenda, ele terá de se afastar do cargo em abril. Ou seja, o decreto que garante segurança da PM a ex-prefeitos vem a apenas um mês do prazo máximo para que deixe a prefeitura. Doria, portanto, poderá contar com a segurança do Estado, paga pelo contribuinte, enquanto faz sua campanha para governador.
Nesta terça-feira (6), Doria se recusou a responder perguntas de repórteres sobre o decreto que vai garantir que sua segurança seja feita pela polícia depois de deixar a prefeitura. Já nesta quarta-feira (7), divulgou um vídeo em seu Twitter, visando amenizar as críticas, em que garante que “reembolsará” a prefeitura pelos serviços prestados pela Polícia Militar durante o período que contar com o benefício do decreto.
O “não político” que gosta política e o privatista que gosta do aporte estatal
“Vamos privatizar tudo o que for possível”. Com esse discurso o empresário João Doria se elegeu prefeito de São Paulo em outubro de 2016. Ao longo de sua gestão, que tem pouco mais de um ano, o tucano encampa com força o discurso das privatizações e do Estado mínimo.
Em fevereiro do ano passado, lançou o Pacote Municipal de Desestatizações, aprovado na Câmara dos Vereadores em setembro e sancionado logo na sequência. O pacote de privatizações, ainda em andamento, inclui a venda e concessão de inúmeros serviços e equipamentos públicos, como 108 parques, 27 terminais de ônibus, mercados públicos, praças e planetários, serviços de guinchos e pátios de carros, cemitérios, o Estádio do Pacaembu, o Autódromo de Interlagos, o Sambódromo do Anhembi e a SPTuris. “O maior plano de desestatização da história de São Paulo”.
Para além do pacote de privatizações, que o prefeito chegou a apresentar a investidores em Dubai e também em Davos, no Fórum Econômico Mundial, Doria sustenta o discurso do estado mínimo em ações do dia a dia, como na instalação de câmeras pela cidade, reforma de viadutos e passarelas, pavimentação de vias, limpeza de praças, etc. Todas as ações, registradas em vídeos que mais parecem publicidades divulgadas em seu Facebook, vêm acompanhadas das frases “parceria com a iniciativa privada” e “custo zero” para a prefeitura de São Paulo. Isso sem falar ainda da ideia de vender os dados dos cidadãos através das redes de Wi-Fi gratuitas da prefeitura.
Também não é difícil ver Doria fazendo críticas a programas sociais encampados pelo PT. Em São Paulo, ele acabou com um programa de redução de danos para dependentes químicos na região da Cracolândia e por mais de uma ocasião teceu críticas ao Bolsa Família, marcas dos governos Lula e Dilma. Ele já chegou até mesmo a aventar a ideia de privatizar o SAMU na capital paulista.
Ou seja, trata-se do discurso típico de um liberal que entende os programas sociais e os serviços públicos como um peixe dado. Doria é daqueles que preferem “ensinar a pescar”.
O tucano privatista e que sempre se disse “gestor”, e “não político”, no entanto, vem se mostrando muito mais político e apreciador do aporte do estatal para benefício próprio do que sustenta em seu discurso. Com um pouco mais de um ano de prefeitura, João Doria deixará o cargo para ser candidato a governador, contando ainda com segurança do Estado, paga pela população. Não era ele o gestor do Estado mínimo e “não político”?
Resta a João Doria, o privatista, responder a duas questões: se defende tanto o Estado mínimo, por que não contratou seguranças particulares? Se vai reembolsar a prefeitura, por que, então, precisou baixar um decreto?
Para o gestor, Estado mínimo nos olhos dos outros é refresco.