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Reportagem de Guilherme Balza, na Rádio CBN, divulgou gravação de uma conversa entre a diretora do Departamento de Iluminação da Prefeitura de São Paulo, Denise Abreu, e uma secretária dela. O áudio indica que Denise recebia propina para favorecer o consórcio FM Rodrigues, que venceu a disputa, e prejudicar o concorrente, o consórcio Walks. A PPP da Iluminação era um contrato de R$ 7 bilhões.
A conversa aconteceu presencialmente em dezembro de 2017 no gabinete de Denise Abreu, diretora do departamento de Iluminação da Prefeitura, o Ilume.
Denise diz à secretária que vai lhe dar R$ 3.000 relativos ao mês de novembro. O dinheiro, segundo ela, foi repassado pelo consórcio FM Rodrigues. Denise afirma que aquele seria o último pagamento porque o consórcio deixaria de mandar dinheiro a ela. O motivo seria porque o grupo iria perder os contratos com a prefeitura. A FM Rodrigues é a atual responsável pela manutenção dos postes da cidade.
DENISE ABREU - Eu vou te dar os seus três (R$ 3 mil)... Mas a empresa (FM Rodrigues) não tem mais contrato e eu não vou ter como arcar daqui pra frente com isso. É o último mês. Simplesmente não tem como.
SECRETÁRIA - Nem em dezembro?
DENISE ABREU - Tô te dando agora.
SECRETÁRIA - Então, [o pagamento] que era de novembro?
DENISE ABREU - Não tem como [pagar em dezembro]. Você não tá vendo os movimentos? E ninguém faz nada, querida. Entendeu?
SECRETÁRIA - Uhum
DENISE ABREU - É um escândalo o que tá acontecendo em São Paulo e não tem um jornalista para empurrar isso. Então, querida, dançou. Não tem mais PPP, não tem mais nada, pode esquecer. Não tem fonte. Não tem fonte.
SECRETÁRIA - Tá bom, doutora. Tudo bem.
O dinheiro seria uma mesada paga pela FM Rodrigues à Denise em troca do favorecimento. Parte do montante seria repassado para a secretária. Procurados pela CBN, a diretora do Ilume e a empresa negaram o pagamento de propina.
Denise Abreu ficou conhecida na época do caos aéreo, quando era diretora da Anac. Ela foi pré-candidata à Prefeitura de São Paulo pelo Partido da Mulher Brasileira, mas abandonou a disputa para apoiar João Doria. Em troca, ganhou o cargo de diretora do Ilume.
Em outro trecho, ela reclama que ninguém na prefeitura defende a FM Rodrigues. Se queixa também de reportagens na imprensa que, na visão dela, são negativas ao consórcio.
"Não há como. A empresa não vai continuar aqui. Não vai por conta dessa palhaçada. Acabou de protocolar, a FM Rodrigues, a saída dela. Ninguém quer defender a FM Rodrigues é porque ninguém tá precisando, né? Eu não tô culpando ninguém. Só estou te dando uma satisfação. Eu tenho como [te fazer os pagamentos] porque chegou nesse ponto e eu não tenho ninguém que faça o contraponto. Vai acabar o contrato mesmo porque eu não tenho ninguém pra fazer o contraponto."
A reportagem apurou que a secretária é mulher de um jornalista que possui um blog independente. Com a conversa, Denise tentou pressionar a subordinada a convencer o marido a publicar matérias contra o consórcio Walks.
Diretora acusa secretário de Governo de Doria
Em outra gravação, sem conexão aparente com a anterior, Denise acusa o superior dela, Marcos Penido, e o secretário de Governo, Julio Semeghini, de receberem propina da Eletropaulo, companhia de energia de São Paulo.
"Por que? Porque os que ganham propina da Eletropaulo devem estar já assim: "Ai meu Deus do céu ela falou do meu propineiro e agora? Penido, Julio Semeghini, tudo mundo sabe que eles levam uma 'bola' da Eletropaulo."
OUTRO LADO
Em nota, Denise Abreu negou que tenha praticado qualquer irregularidade e que vai esclarecer as acusações, que ela chama de infundadas. Diz que não poderia interferir na PPP porque não participou da Comissão de Licitação, nem tinha competência para assinar contratos. Denise ainda nega ter dito que os secretários receberam propina da Eletropaulo.
Também em nota, a Prefeitura rechaçou qualquer envolvimento irregular entre Marcos Penido e Julio Semeghini com a Eletropaulo. A gestão Doria informou que aguardaria a veiculação da reportagem com os áudios de Denise Abreu para tomar providências.
Todos os outros envolvidos também negaram qualquer participação no esquema.
Ouça os áudios aqui.
A Eletropaulo, por sua vez, também divulgou nota informando que desconhece o conteúdo das gravações, mas salienta que, se confirmadas as informações, tomará "medidas legais cabíveis".
"A Eletropaulo desconhece o conteúdo da gravação mencionada pela reportagem. A empresa possui rígidos critérios de ética e repudia qualquer ação que possa infringir essas regras. Se confirmadas as informações da reportagem, a Eletropaulo tomará as medidas legais cabíveis para apurar quaisquer comentários inverídicos quanto à sua reputação”