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Jornalista transformou seu espaço em O Globo em uma plataforma de campanha para o candidato do PDT: “Pode-se discutir suas ideias para o Brasil, mas não sua honestidade e experiência. Não dá para enfrentar Bolsonaro com sutilezas e metáforas”.
Da Redação*
Nelson Motta praticamente virou cabo eleitoral de Ciro Gomes. Apesar de negar estar fazendo campanha para o ex-ministro, sua coluna desta sexta-feira (9), em O Globo, intitulada Plano C, rasgou elogios ao candidato do PDT.
Acompanhe o texto:
Plano C
Não entendo por que ser grosso e estourado de vez em quando pode impedir alguém de fazer um bom governo.
Com a saída de Lula, crescem as chances de Ciro Gomes — e de outros candidatos. Por que falar em Ciro Gomes? Apesar de pontuar razoavelmente nas pesquisas, sem Lula vai a 12% contra 18% de Bolsonaro, ninguém fala dele. Mas ele está vivo — e quieto, contrariando sua habitual impetuosidade.
Afinal, o que há contra Ciro Gomes? Na campanha de 2002, ele disse que a função de sua mulher era dormir com ele e chamou um eleitor de burro. Oh! Uma bravata machista e uma grosseria com um popular que falou uma... burrice. Será que isso bastou para perder a eleição? Há controvérsias. Ciro nunca foi acusado de corrupto, mesmo tendo sido prefeito, governador e ministro da Integração Nacional no primeiro governo Lula. É verdade, o cara é esquentado, responde a mais de 80 processos por danos morais, quase todos a Eunício Oliveira, Eduardo Cunha e Michel Temer. Mas, convenhamos, ser processado por esses caras é quase um elogio.
Não, não estou fazendo nem farei campanha para Ciro Gomes, nem para ninguém. Mas não entendo por que ele é tão criticado por, às vezes, ser grosso e estourado, como se isso pudesse impedir alguém de fazer um bom governo. Basta pensar em Lula e Dilma, suas grossuras, seus palavrões, seu autoritarismo, para Ciro virar um gentleman tolerante.
Não gosto de seu nacionalismo exacerbado, seu amor às estatais, um certo provincianismo geopolítico que é irmão do atraso, suas ligações com uma esquerda antiga, retrógrada e populista — talvez mais eleitorais do que ideológicas. E o PDT, é claro.
Pode-se discutir suas ideias para o Brasil, mas não sua honestidade e experiência. Mas o Brasil precisa de alguém com o seu perfil? Não dá para enfrentar Bolsonaro com sutilezas e metáforas, nem para administrar um país com a corrupção institucionalizada nos Três Poderes, só com argumentos racionais e diálogos republicanos. É preciso força, coragem e autoridade, tolerância zero com corruptos, sejam parlamentares, juízes ou altos funcionários, respeito à democracia e à Constituição.
Se o problema de Ciro é o estilo arretado, talvez agora isso seja uma qualidade necessária.
*Com informações de O Globo
Foto: Daniela Dacorso/Divulgação