Um novo país nasceu este ano na Marquês de Sapucaí

A desmoralização do status quo, das grandes armações e estruturas desabou na avenida. E transmitido por uma delas

Foto: NINJA
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O enredo da Beija Flor, que venceu o carnaval de 2018, se chama: ‘Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu’. O samba, dos compositores Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa, diz assim: “Ganância veste terno e gravata Onde a esperança sucumbiu Vejo a liberdade aprisionada Teu livro eu não sei ler, Brasil!” Em segundo lugar, quase como uma zebra sem precedentes, a Paraíso de Tuiuti fez um desfile histórico, com direito a Temer travestido de vampiro, uma comissão de frente inesquecível e um enredo que pergunta de forma desconcertante e direta “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?” “Meu Deus! Meu Deus! Seu eu chorar não leve a mal Pela luz do candeeiro Liberte o cativeiro social” O carnaval de 2018 será lembrado por muitos e muitos anos como o carnaval em que o povo e suas escolas resolveram dar um basta às suas mazelas, seus governantes e todos os desmandos que têm sofrido. Nunca antes na história deste país o carnaval brasileiro foi tão significativo. A emissora responsável pela transmissão, a Rede Globo, constrangida, não sabia onde encaixar os seus comentários. Era impossível fingir que não existiam aquelas figuras simbólicas, as sátiras, as correntes e o seu próprio papel dentro de tudo apoiando o golpe, estigmatizando políticos de esquerda, sobretudo Lula, cumprindo, enfim, o seu papel histórico. O carnaval de 2018 foi um aviso, um alerta, uma ameaça concreta. As coisas nunca mais serão como foram até aqui. O povo, organizado e encantado, feliz e engasgado, armado até os dentes com o melhor do seu talento deixou claro a que veio. Acabou. A desmoralização do status quo, das grandes armações e estruturas desabou na Sapucaí. Um novo Brasil nasceu em pleno carnaval brasileiro. Foto: Mídia NINJA