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Em uma enquete do O GLOBO e o Extra na internet sobre o que mais bombou na Sapucaí, os milhares de participantes escolheram a comissão de frente da Paraíso do Tuiuti como o ponto alto das apresentações, com 45% dos votos. Ao todo, foram 8.213 votos na enquete que escolheu o destaque do público no Estandarte de Ouro.
Em segundo, com 13,5%, ficou o tom ácido e crítico trazido pela Beija-Flor no carro que recriava cenas da violência do cotidiano do Rio e uma 'Pietá' diferente, com um policial no lugar de Jesus. E em terceiro lugar, com 9,1%, a sátira política e social levada pela Mangueira à Avenida de forma divertida. No domingo e na segunda, as 13 agremiações do Especial trouxeram críticas sociais e políticas, assuntos de grande repercussão na internet, homenagens e cenas expressivas que emocionaram o público, entre outros destaques.
"O grito de liberdade" era o nome da comissão de frente do Paraíso do Tuiuti, que arrancou aplausos e lágrimas de emoção de quem acompanhou o desfile na Marquês de Sapucaí. Com a pergunta-enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, a escola de São Cristóvão questionou o fim do trabalho escravo no Brasil 130 anos após a assinatura da Lei Áurea. Patrick Carvalho, de 33 anos, coreógrafo da comissão de frente, conta que convive diariamente com a mensagem transmitida na Avenida. Para ele, as premiações recebidas significam que as pessoas estão se unindo e indo, juntas, nessa luta por uma liberdade tão necessária.
— Sou negro, moro em comunidade e chego em casa com medo. Quis fazer uma comissão de muita verdade. Fico muito feliz. Entrar na Avenida com esse grito de alerta me deixa extremamente satisfeito. Sentia a vibração do povo gritando junto com a gente. Sempre acreditei que os pássaros ousados voam alto, e chegou a nossa hora — conta Patrick, ainda emocionado.
O carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, conta que, desde o fim do desfile da escola, o que ele mais ouviu dos cariocas apaixonados pelo samba é que a agremiação levou para a Avenida tudo o que eles queriam viver neste carnaval. A escola trouxe o enredo "Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco", que contou a história do carnaval no Rio, com foco popular e na festa de rua sem objetivo comercial.
— Esse reconhecimento do público é muito bacana. O enredo começou como um abraço da escola na pluralidade e na cultura do Rio de Janeiro, e agora é o contrário. O povo é que está abraçando a Mangueira e apontando ela como uma das grandes favoritas.
Entre tantas mazelas sociais destacadas pela Beija-Flor, chamou atenção um alerta para a crescente onda de violência, disseminada também nas torcidas de futebol, no Rio e no país. Alegorias da escola de Nilópolis destacaram cenas de assalto, arrastão, vítimas de balas perdidas e policiais mortos - imagens que se tornaram comuns ao cotidiano das grandes cidades e que, segundo o enredo, são consequências do abandono do povo pelas autoridades, definidas como ratos e sanguessugas do "terror brasileiro".
O resultado da votação mostra que os enredos sociais e políticos apresentados fizeram sucesso com o público. São temas que diariamente causam furor na internet e estampam as páginas dos noticiários. As fantasias e alegorias deram vida a essa crítica social contundente. As mazelas que atingem o Brasil, a escravidão de ontem e hoje e os protestos irreverentes contra a administração pública deram o tom na disputa.
O Estandarte de Ouro é o prêmio mais importante do carnaval carioca. Em 2018, o júri escolheu o Salgueiro como a melhor escola. Organizado desde 1972 pelo GLOBO, o troféu agora também tem a participação do jornal “Extra”. A premiação tem 15 troféus para o Grupo Especial e os dois para a Série A. O júri é formado por especialistas no assunto e tem em 2018 o reforço do historiador Luiz Antonio Simas, colunista do Segundo Caderno do GLOBO e um dos maiores estudiosos da cultura popular.
*Com informações do Globo
Foto: Mídia Ninja