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[caption id="attachment_145837" align="alignnone" width="700"] Foto: Jotha R. Kayber[/caption]
Por Maurício Thuswohl, da RBA
Há coisas que o tempo não apaga, como a dor pela perda de um irmão. Ou os ideais de liberdade, democracia e justiça social que moldam toda uma vida de lutas. Esses dois sentimentos se fizeram presentes de forma emocionante na manhã deste sábado (8), durante a cerimônia realizada no Rio de Janeiro em homenagem a Stuart Angel – ex-militante do MR-8 assassinado em 1971 pela ditadura civil-militar.
Apesar da chuva, cerca de cem pessoas compareceram ao ato realizado na rua, ao lado do busto de Stuart, obra do artista Edgard Duvivier instalada no bairro da Urca. A cerimônia marcou o recebimento pela família Angel de uma fotografia – até então desconhecida – na qual Stuart aparece disfarçado para a emissão de um documento falso que seria usado na clandestinidade.
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Em meio a lágrimas e gritos de “Stuart presente!”, a foto foi entregue à jornalista Hildegard Angel pelo mecânico aposentado Sebastião Braz, que acolheu o militante em sua casa nos dias que antecederam sua prisão e morte.
A importância de lembrar e reafirmar a luta e os ideais de Stuart no atual momento político que vive o Brasil deu o tom das intervenções durante o ato: “Esta luta não termina nunca, nós não podemos esquecer e não esquecemos porque as feridas são muito profundas. Esse sofrimento abrange não somente a família direta do Stuart, mas também todas as famílias correlatas e os amigos. Essa é uma cicatriz que a gente carrega, mas carrega com orgulho porque o Brasil tem heróis. Por isso, ser irmã do Stuart sempre me envaideceu”, disse Hildegard.
O ato teve a participação de Antônio Francisco da Silva, pai da vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano em um crime político ainda não esclarecido. A placa que traz a vereadora como nome de rua, que se tornou símbolo de resistência após ser atacada por simpatizantes do presidente eleito Jair Bolsonaro, foi colocada ao lado do busto de Stuart.
A participação de Chico Andrade, antigo militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) que sobreviveu às torturas nos porões da ditadura, foi uma das mais emocionantes: “Relembrar o Stuart é sempre um momento de resistência, de afirmação da cidadania, da democracia e da liberdade. Essa foi a nossa luta”, disse.
Andrade ressaltou a importância do resgate das memórias da ditadura no atual contexto brasileiro: “Neste momento que estamos vivendo no país temos que ficar de olho e batalhando, pois a situação está ficando muito difícil. É muito importante relembrar para não deixar voltar. A minha luta, a luta do Stuart, continua. Ela passa de geração para geração”.
Hildegard lamentou o discurso adotado por Bolsonaro e seus simpatizantes durante a última campanha eleitoral: “Existe uma tentativa de reescrever a história, de reinterpretá-la, de modificá-la. Querem criar uma história do Brasil de acordo com a conveniência de cada governo que estiver no poder, mas a história do país é única. Ela não pode sofrer esse tipo de deformação. Nós estamos aqui para relembrar”, disse.
A presença ostensiva de duas viaturas da Polícia Militar durante o ato também foi comentada pela jornalista: “Estamos vendo uma demonstração dos novos tempos. Nós já fizemos vários eventos aqui em datas comemorativas e hoje, pela primeira vez, tem polícia. Esse é o novo Brasil, e não sei por quanto tempo a gente vai poder fazer publicamente eventos como esse sem sofrer nenhuma retaliação”.
Esbanjando vitalidade aos 83 anos, Sebastião Braz também deu seu recado após entregar a foto na qual Stuart, que era louro, aparece de cabelos pretos e bigode: “Na democracia, é normal perdermos as eleições. O que não pode é, nas eleições, perdermos a democracia”, disse.
O ato foi encerrado aos gritos de “viva” para Stuart, sua mãe Zuzu Angel, Marielle e outros militantes de ontem e de hoje que foram assassinados em consequência de sua luta por um Brasil melhor e mais justo.
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