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POLÍTICA
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Por Keffin Gracher*
Na segunda-feira, 29 de outubro pós eleições, o Facebook disponibilizou uma ferramenta para os cidadãos acompanharem os representantes eleitos. Os usuários receberam uma mensagem com a opção de seguir o perfil oficial de todos os deputados estaduais, federais, senadores e governador do seu estado, além do presidente da República.
Nossa jovem democracia carece de mecanismos de controle social. A internet é uma possibilidade potencialmente democrática para que esse controle seja feito. Trato como potencialmente democrática, pois ainda temos muitos brasileiros sem acesso à internet.
Acompanhar o trabalho exercido por aqueles que nos representam é uma tarefa difícil, até mesmo para aqueles que se interessam pela política. Nos últimos anos, com as possibilidades criadas pelas novas tecnologias, podemos ver alguns caminhos sendo estabelecidos, como sites, redes socais e aplicativos.
Os sites dos políticos começaram a surgir após as eleições de 2002, na época muito incipiente e com pouco conteúdo e atratividade. Ao longo dos anos, algo que era opcional e raro tornou-se quase que obrigatório. Os parlamentares, em especial, criaram sites e se estabeleceram nas redes sociais para se aproximar do eleitorado, não só como um mecanismo de prestação de contas, mas principalmente como um espaço de propaganda.
Hoje os perfis nas redes sociais acabam por ter um papel até mais importante para esse acompanhamento do trabalho dos parlamentares, possibilitando hora ou outra o internauta ver na sua “time-line” uma postagem relativa às atividades dos parlamentares que acompanha.
Nesse contexto, a iniciativa do Facebook é louvável e deveria ser exemplo para outras plataformas. Estimular os cidadãos a acompanharem as ações de todos seus representantes é uma forma de ir criando uma cultura de controle social, do eleitor compreender que o papel dele não é somente votar nos dois turnos, mas que precisa acompanhar os debates do país e, principalmente como atua seus representantes. É o modo de questionar e exigir coerência com aquilo que foi apresentado nas eleições.
Nossa legislação sobre transparência avançou e é exemplo. Os portais dos governos e dos legislativos não são tão amigáveis para navegação, mas existem aplicativos como o “Meu deputado” que ajudam na compilação dos dados para o acompanhamento de como está votando cada parlamentar, quais projetos foram apresentados e como o parlamentar gasta sua verba de gabinete. Talvez um aplicativo nativo - aplicativo feito pelo próprio Facebook para ser utilizado pelos usuários dentro da plataforma - poderia ser mais um passo da plataforma para dar transparência e aumentar a possibilidade de controle social sobre o trabalho dos nossos representantes.
Vale salientar que mecanismos de acompanhamento do trabalho dos representantes que exercem cargo executivo precisam ser mais publicizados e de mais fácil acompanhamento. Algo intuitivo e autoexplicativo, pois a compreensão de como se aplica um orçamento - municipal, estadual ou federal - é algo bastante complexo.
Não podemos nos esquecer ainda que a sociedade brasileira ainda não olhou devidamente para o Judiciário. Precisamos também ter atenção a esse Poder da República, exigir transparência e acompanhar seu trabalho e resultados.
Precisamos de mais e melhores ferramentas que tragam para as mãos dos cidadãos formas de acompanhar e opinar sobre a atuação dos poderes constituídos.
Aqui entraria no “quarto Poder”, a mídia, mas esse tema demanda um artigo próprio, pois assim como o Legislativo, Executivo, Judiciário, a imprensa também precisa ter controle social, ou que seja a regulação social, como é feito em diversos países, onde avançou a compreensão do papel que a mídia exerce e sua função social.
*Keffin Gracher é jornalista e cientista social. Há 12 anos coordena projetos de comunicação digital, com foco em governos e campanhas eleitorais.
No governo da presidenta Dilma Rousseff foi diretor de Internet, responsável pela presença digital do Governo Federal.