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Deputado argentino que foi linha de frente pela legalização do aborto na Argentina, Nicolas Del Caño (PTS) está no Brasil a convite do Esquerda Diário e do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e concedeu uma entrevista à Fórum sobre o avanço do fascismo pelo mundo, eleições brasileiras e direitos dos trabalhadores.
De acordo com Caño, uma possível eleição do candidato Jair Bolsonaro (PSL) faria com que fosse “muito difícil” avançar em leis que garantam os direitos das mulheres sobre o próprio corpo. Porém, ele acredita que a luta feminista no Brasil pode ser uma grande resistência contra um avanço conservador.
“Um governo de Bolsonaro seria muito difícil de avançar no direito ao aborto. Mas acredito que um conjunto de luta de setores da sociedade, das mulheres, da frente trabalhadora, do povo negro e pessoas LGBTI têm uma força e um valor muito importante. Essa força e mobilização do povo brasileiro estaria derrotando essa política que Bolsonaro quer plantar”, afirma o deputado.
Pelo fato de o candidato do PSL não expor suas ideias nos debates, Caño acredita que seu programa econômico não teria um consenso de muitas pessoas que vão votar nele. Mesmo assim, ele diz estar atento ao avanço do fascismo no Brasil. “Vemos esse avanço de Bolsonaro com uma grande preocupação”. Segundo o deputado, o candidato é uma ameaça não somente ao povo brasileiro, às mulheres, aos gays e aos setores populares.
Caño afirma que essa situação era possível de ser visualizada desde o golpe sofrido pela presidente Dilma Rousseff (PT) e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Bolsonaro se apossa dos setores conservadores para criar uma questão social”, diz o deputado argentino. Segundo ele, isso acontece pelo motivo de que o presidente Michel Temer (MDB) não poderia mais ir adiante com o projeto de retirada de direitos dos brasileiros.
A manipulação das eleições com o esquema de disparo de mensagens falsas sobre o candidato Fernando Haddad (PT) pelo WhatsApp também é uma questão observada pelo deputado. Segundo ele, essa denúncia sobre o caixa dois da campanha de Bolsonaro é “brutal”. “A indignação é muito grande”, afirma.
Ele também criticou o aumento de cenas de violência no Brasil por conta de divergências políticas. “Vejo isso com muita indignação e com muita preocupação as violências que chegam à violência física e aos assassinatos. Veja o que aconteceu com mestre Moa e com Marielle Franco”, lembra o deputado. Mesmo assim, ele diz que o Brasil é muito forte e tem que retomar os caminhos de luta para enfrentar esses setores que “estão dispostos a matar”. “Não podemos ficar de braços cruzados”, diz.
O deputado destaca ainda que os ajustes feitos pelo candidato do PSL seriam conservadores não só na questão sobre o aborto no Brasil, mas sobre setores que são encabeçados por minorias e trabalhadores. Na Argentina, Canõ diz que o avanço sobre o debate em relação ao aborto só foi possível por conta da força da mobilização de mulheres no país.
Por conta de setores conservadores, a legalização ainda não foi aprovada na Argentina, mas o deputado acredita que ano que vem será promovido, mais uma vez, o debate sobre o direito das mulheres de decidirem sobre seus corpos. Segundo ele, prorrogar a proibição do aborto é “jogar politicamente com os direitos das mulheres”.