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O linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, Noam Chomsky, publicou artigo, nesta terça-feira (2), no The Intercept, onde relata sua visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e faz longa análise sobre a situação sócio-política mundial e o papel do Brasil dentro dela.
Chomsky lembra que “Lula, como é universalmente conhecido - foi sentenciado à prisão perpétua virtual, em confinamento solitário, sem acesso à imprensa e com visitas limitadas a um dia por semana”.
O intelectual descreve então o episódio da guerra das liminares para tentar liberar Lula dar entrevistasse adverte: “para a estrutura de poder do Brasil, aprisionar Lula não é suficiente: eles querem garantir que a população, enquanto se prepara para votar, não possa ouvi-lo e, aparentemente, está disposta a usar qualquer meio para alcançar esse objetivo”, escreveu.
Logo a seguir, Chomsky evoca a história e lembra que “o juiz que reverteu a permissão”, no caso o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, “não estava inovando. Um predecessor seu foi o promotor na sentença de 1926 de Antonio Gramsci pelo governo fascista de Mussolini, que declarou: ‘Precisamos impedir que seu cérebro trabalhe por 20 anos’”.
Após detalhada e intensa abertura, o filólogo, dá a chave: “O Brasil está enfrentando uma eleição que é de importância crítica para o seu futuro. Lula é de longe o candidato mais popular e ganharia facilmente uma eleição justa, não o resultado preferido pela plutocracia”.
E explica o porquê:
“Embora suas políticas enquanto estavam no cargo fossem projetadas para acomodar as preocupações das finanças domésticas e internacionais, ele é desprezado pelas elites, em parte devido às suas políticas de inclusão social e benefícios para os despossuídos, embora outros fatores pareçam intervir: basicamente simples ódio de classe. Como pode um trabalhador pobre, sem educação superior, que nem sequer fala português, ser autorizado a liderar o nosso país?”.
E aponta as consequências:
“Com Lula impedido de concorrer, há uma boa chance de que o favorito direitista, Jair Bolsonaro, consiga a presidência e aumente seriamente as políticas duramente regressivas do presidente Michel Temer, que substituiu Dilma Rousseff depois que ela sofreu impeachment em um processo ridículo. Estágio inicial do “golpe suave” agora em curso no país mais importante da América Latina.”
De acordo com Chomsky, “Bolsonaro se apresenta como um autoritário duro e brutal e um admirador da ditadura militar, que restaurará a ‘ordem’. Parte de seu apelo é sua postura como um forasteiro que vai desmantelar o establishment político corrupto, que muitos brasileiros desprezam por boas razões, o análogo local da amarga reação em grande parte do mundo aos efeitos do ataque neoliberal da geração passada. Bolsonaro afirma que não sabe nada sobre economia, deixando esse domínio para o economista Paulo Guedes, um produto ultraliberal de Chicago”.
Ainda sobre o economista de Bolsonaro, Chomsky prossegue: “Guedes é claro e explícito sobre sua solução para os problemas do Brasil: ‘privatizar tudo’, toda a infraestrutura nacional (Veja, 22 de agosto), para saldar a dívida com os predadores que roubam o país. Literalmente tudo, garantindo que o país se torne insignificante como brinquedo das instituições financeiras muito ricas e dominantes. Guedes trabalhou por um tempo no Chile sob a ditadura de Pinochet, então pode ser útil relembrar os resultados do primeiro experimento no neoliberalismo de Chicago”.
Após a descrição, Chomsky situa a situação econômica no Brasil: “Voltando às prescrições de Bolsonaro-Guedes para enfraquecer o Brasil, é importante ter em mente o poder esmagador das finanças na economia política brasileira. O economista brasileiro Ladislau Dowbor relata que à medida em que a economia brasileira entrou em recessão, em 2014, os grandes bancos aumentaram os lucros de 25% a 30%, ‘uma dinâmica na qual quanto mais bancos lucram, mais a economia está parada’, já que ‘intermediários financeiros não financiar a produção, mas drená-la’ (A era do capital improdutivo)”, descreve.
Chomsky prossegue na citação a Ladislau: “Além disso, Dowbor continua: ‘Depois de 2014, o PIB caiu drasticamente, enquanto os juros e lucros dos intermediários financeiros aumentaram entre 20% e 30% ao ano’, uma característica sistemática de um sistema financeiro que ‘não serve a economia, mas é servido por ela’. É produtividade líquida negativa. A máquina financeira está vivendo à custa da economia real”.
Daí em diante, o intelectual insere o Brasil no cenário mundial e alerta: “Este é o futuro planejado pela plutocracia e seus candidatos favorecidos. Seria minado pela renovação da presidência de Lula, que atendia às instituições financeiras e ao mundo dos negócios em geral, mas não o suficiente na atual era do capitalismo selvagem”.
E encerra:
“A corrupção é de fato uma praga no Brasil e na América Latina em geral, mas esses são pequenos atores na competição. Tudo isso nos leva de volta à prisão, na qual um dos presos políticos mais significativos do atual período é mantido em isolamento para que o ‘golpe suave’ no Brasil possa prosseguir seu curso, com consequências prováveis que serão severas para a sociedade brasileira e para grande parte do mundo, dado o potencial papel do Brasil. Pode prosseguir seu curso, isto é, se o que está acontecendo for tolerado.”
Leia o artigo completo no The Intercept.