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POLÍTICA
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Penso que devo me apresentar antes de deitar falação sobre o tema que escolhi para o primeiro texto a ser publicado neste importantíssimo meio em meio (é de propósito) a tanto lixo tóxico em torno de nós travestido de jornal, de revista, de seja lá o quê for.
Meu nome é Eduardo Goldenberg, nasci em 1969, pouco mais de 5 anos depois do golpe que instituiu, na marra, uma ditadura militar criminosa que se estendeu até 1985. Penso que ninguém me definiu tão bem (embora eu não suporte as definições, quase sempre limitadoras e reducionistas) quanto Aldir Blanc, no prefácio do meu livro “Meu lar é o botequim”, quando disse:
"Eduardo Goldenberg é carioca dos ovos, carioca da bunda, da Zona Norte, de blocos e bares, de becos e esquinas, carioca dos países baixos e mostra sua vocação pra disputar, aguerridamente, causas perdidas, sua ojeriza aos mamalufs soltos, aos garotodutos propinados, às Rosas de Maia que destroem o Rio de Janeiro, à lama que envolve as bases de sustentação política do país. No grito contra a escrotidão dos investigados e investigadores das CPIdiotas, daqueles que mantêm a velha ordem dos faraós embalsamados, Edu nasceu dissidente até de si mesmo. Não perdoa hipocrisia e atitudes politicamente corretas, estejam camufladas no futebol, no feminismo, nas estruturas neoverdes ambientoscas, na enxurrada de páginas estruturo-linguarudas de suplementos culturais que tomaram o freio das vã-guardas nos dentes podres".
Importante notar que Aldir – não custa lembrar, o autor do Hino da Anistia eternizado na voz de Elis Regina – escreveu isso em 2005, há 13 anos portanto. Treze anos depois sigo dissidente de mim mesmo, vocacionado pra disputar, aguerridamente, causas perdidas. Gritando contra a escrotidão dos investigados e investigadores e sem nenhuma aptidão para perdoar a hipocrisia e o politicamente correto. Dito isso, vamos ao que quero lhes dizer.
Formei-me em Direito, em 1992, e fui, de toda a turma, talvez o único a não ansiar pelas inúmeras carreiras recém-criadas pela Constituição Federal de 1988. Hoje, 30 anos depois da promulgação da Constituição Federal – rasgada sem dó nem piedade por quem por ela deveria zelar – a situação é crítica e, ousaria dizer, desesperadora: o Poder Judiciário, outrora visto como última saída pelo cidadão vilipendiado, hoje se arvora em refundar a República, torcendo, distorcendo e retorcendo sua função precípua. Hoje, 26 anos depois de minha formatura, tenho vergonha de grande parte dos meus ex-colegas que optou não pelo exercício sacrossanto da advocacia, mas pelo conforto e pela segurança oferecidos pelos cargos que ocupa e que, como o Poder Judiciário, se transformaram (torcidos, distorcidos e retorcidos) em símbolo de status e de vaidade. Essa casta – a dos ungidos por uma carreira pública – unida à casta dos togados (salvo exceções que confirmam a regra) e ainda à casta dos neopentecostais estão nos levando em direção a tempos tão escuros e obscuros quanto os tempos da ditadura militar. Era o que eu queria lhes dizer para, mais à frente, aprofundar-me um pouco mais.
Termino não sem antes transcrever o juramento que fiz em 1992, quando me formei: “Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da Justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas”. Hoje, em 2018, isso é quase ficção científica.
E permitam-me um último parágrafo: nasci e fui criado na Tijuca, onde vivo até hoje e onde pretendo ser enterrado se até minha morte (que, espero, ainda tarde) erguerem um cemitério por lá. Aprendi, desde cedo, a conhecer e a reconhecer os meus com os cotovelos apoiados nos balcões dos pés-sujos espalhados pela Tijuca e pelo Brasil que percorri. Questão de estilo e de escolha. Por isso (também por isso), se às vezes lhe parecer que soo como um tijucano sem pretensão acadêmica alguma é sinal de que estou sendo coerente comigo e com quem me lê.
Até.