Doria faz negócios na prefeitura através da sua empresa de lobby, o Lide

Depois de vencer a eleição, o tucano se desligou do comando do Grupo Doria, que detém o Lide, e passou o controle acionário aos filhos.

Foto: Heloísa Ballarini / Secom
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Depois de vencer a eleição, o tucano se desligou do comando do Grupo Doria, que detém o Lide, e passou o controle acionário aos filhos. Da Redação* Matéria da repórter Thais Bilenki na Folha de São Paulo informa que, após a eleição de João Doria (PSDB), o Lide, empresa de eventos que ele fundou, registrou filiações de multinacionais, e novos associados firmaram colaborações com a Prefeitura de São Paulo. A Caixa Econômica Federal, banco 100% público controlado pelo governo federal, associou-se ao Lide em março, mesmo mês em que fechou parceria com a prefeitura no lançamento da Nota do Milhão, que substituiu a Nota Fiscal Paulistana. Desde então, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, teve oito compromissos assinalados na agenda pública de Doria, três dos quais sorteios da Nota do Milhão. O governo Temer, que controla a Caixa, aproximou-se de Doria nos últimos meses, ao mesmo tempo em que se afastou de seu rival interno no PSDB, Geraldo Alckmin. Multinacionais como Starbucks e Burger King se associaram ao Lide, que conseguiu reverter o cenário de crise de 2015, quando perdeu 11 associados, e fechou 2016 com 32 novas filiações. Uma das associadas do ano passado é a Uber, que entrou em novembro de 2016, mês seguinte à vitória de Doria no primeiro turno. Ao longo da campanha, o tucano defendeu reiteradas vezes a atividade da empresa. Em 2017, a expectativa do presidente do Lide, Gustavo Ene, é manter o número de empresas associadas em torno das 1.797 atuais. Até agora, houve perda de 24 associados em 2017 em relação ao ano anterior, mas Ene diz que a maioria dos negócios é fechada no segundo semestre. Depois de vencer a eleição, o tucano se desligou do comando do Grupo Doria, que detém o Lide, e passou o controle acionário aos filhos. O prefeito nega correlação de sua agenda com o Lide. CONCOMITÂNCIA Um cruzamento entre a lista de adesões ao Lide com a agenda de Doria na prefeitura mostra outras aproximações concomitantes. Em março, a prefeitura lançou, em parceria com a Estre Ambiental, um aplicativo do programa Limpa-Rápido, com informações sobre serviços de limpeza, coleta e destinação de resíduos do município. Doria e o dono da empresa, Wilson Quintella, fizeram o anúncio do projeto juntos, na sede da prefeitura. Em julho, a Estre Ambiental se associou ao Lide e, no mês seguinte, Quintella estampou a capa da revista "Lide" em reportagem sobre a necessidade de adaptação do mundo corporativo a tecnologias digitais. Em determinados casos, filiações ao Lide foram precedidas e seguidas de audiências de seus dirigentes com o prefeito. É o que ocorreu com a Votorantim e a Brookfield, que aderiram à empresa em julho. A Votorantim teve duas reuniões em junho e uma em agosto assinaladas na agenda do prefeito. A assessoria de Doria diz que ele não participou da última. A Brookfield teve uma audiência em março e outra em setembro. ANUIDADES Para ser uma associada do Lide, a empresa, primeiro, deve ser aprovada nos critérios do grupo, que incluem faturamento igual ou superior a R$ 200 milhões ou ser líder de mercado em seu segmento de atuação. Depois, precisa pagar uma anuidade de R$ 10 mil, caso queira ter assento reservado para dois executivos nos eventos do Lide. Se quiser ter quatro cadeiras, será um cliente "gold" e para isso pagará R$ 16 mil por ano. Exemplos dessa modalidade são o Bradesco (a partir de julho de 2017), cujos executivos já estiveram em quatro agendas oficias do prefeito desde que assumiu, e a IBM (após agosto de 2016), que teve dirigentes no gabinete de Doria duas vezes. Afastado do grupo, o tucano não abriu mão do convívio empresarial. Seccionais do Lide o homenagearam em eventos pelo país. E em São Paulo, Doria esteve no palco da palestra no Lide de FHC. OUTRO LADO A Prefeitura de São Paulo afirmou que "não há qualquer relação entre o fato de uma empresa ser associada ao Lide e ter reuniões com o prefeito João Doria ou representantes da prefeitura". "Não é possível correlacionar a participação de empresas em reuniões na prefeitura e sua posterior filiação ao Lide", disse. A assessoria de Doria afirmou que, nas reuniões com executivos do Lide, "foram tratados temas de interesse da Prefeitura de São Paulo e dos cidadãos paulistanos". Segundo a prefeitura, a Caixa Econômica Federal tratou da Nota do Milhão e a Estre Ambiental teve reunião na prefeitura em janeiro, sem Doria, para discutir aplicativo que lançaria em parceria. A Votarantim, "dentre outros temas", tratou de doações. A Brookfield abordou, "dentre outros temas", possíveis doações e apoio na reforma de uma praça. A IBM discutiu a "prospecção de oportunidades de parcerias" e o Bradesco, "detalhes da participação da prefeitura no Fórum Econômico Mundial. A prefeitura afirmou que "muitas empresas, que não são nem foram filiadas ao Lide, já foram recebidas pelo prefeito". O presidente do Lide, Gustavo Ene, disse que a eleição de Doria "não influenciou em nada, até atrapalha" os negócios, por compliance (regularidade de práticas). "Não há relação entre adesão ao Lide e agenda da prefeitura." *Com informações da Folha Foto: Heloísa Ballarini / Secom