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Ainda não está definido o modelo de financiamento da construção das unidades para onde os moradores seriam removidos, mas está descartada a concessão de auxílio-aluguel às famílias. "Estamos com o orçamento todo comprometido", diz diretor da Cohab.
Da Redação*
O prefeito João Doria quer remover as famílias que moram na favela do Moinho (foto), considerado pela polícia a principal fornecedora de drogas para a Cracolândia, centro de São Paulo. A prática parece ser a mesma da remoção da própria Cracolândia que, dias após a remoção, foi parar a 400 metros do local de origem.
Ainda sem prazo para ser colocado em prática, o projeto está em fase de estudos. Técnicos da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) estão atualmente em busca de imóveis subutilizados no entorno para abrigar as famílias.
Prevista desde 2008, a remoção dos moradores da favela ganhou sinal verde de Doria há cerca de duas semanas, durante reunião sobre o programa anticrack da prefeitura, o Redenção. O prefeito disse aos secretários ser fundamental uma ação definitiva no local. "A questão da cracolândia fez o projeto subir na escala de prioridades", diz Edson Aparecido, diretor da Cohab.
Tanto a prefeitura como o governo Geraldo Alckmin, também do PSDB, têm enfrentado uma crise em torno do tema da cracolândia desde o final de maio, quando uma ação policial prendeu traficantes e desobstruiu vias onde funcionam uma feira de drogas a céu aberto. Pesquisa realizada em junho pelo Instituto Ipsos constatou que, após a operação na cracolândia, a popularidade nacional de Doria despencou.
A partir disso, o que se viu foi a movimentação dos usuários de drogas para outros endereços do centro da cidade e alguns confrontos com policiais e guardas, em meio a problemas de estrutura para internar os dependentes.
Agora, para garantir a retirada das famílias da favela e evitar novas ocupações no local, o projeto em parceria com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) foi retomado.
A companhia é vinculada ao governo do Estado e estuda usar o terreno para ampliar a estação Júlio Prestes, ao lado da cracolândia. A área seria usada para manobras e estacionamento dos trens. Segundo a companhia, há também estudo em curso para a implantação de uma nova estação na região central, "cuja localização exata depende da interlocução com outros órgãos, inclusive a prefeitura", diz, em nota.
Há uma semana, ação policial para prender traficantes na favela do Moinho terminou com a morte de Leandro Souza Santos, 19. A polícia o acusa de ter resistido à abordagem e atirado contra os oficiais da Rota que o perseguiram até o interior de um barraco.
Mas, de acordo com a família, Leandro era viciado em drogas e teria sido torturado e assassinado após correr dos policiais. Segundo o tenente-coronel da PM, Miguel Daffara, que comandou a operação, incursões semelhantes serão recorrentes na favela do Moinho. "Precisamos sufocar o tráfico de drogas."
A Polícia Civil chegou a investigar denúncia de que corpos de pessoas assassinadas na cracolândia vinham sendo desovados nas duas chaminés que ficam no meio da favela. Policiais desceram as estruturas de rapel, mas nada foi encontrado.
Em maio, uma semana após a ação policial que dispersou a antiga cracolândia, Alckmin fez uma visita surpresa aos moradores. Em conversas na entrada da favela, disse a eles que um conjunto habitacional localizado a 12 km da favela está quase pronto. O local deve ser oferecido aos moradores do Moinho que aceitarem morar ali –está prevista a entrega de mil unidades.
Além de desmobilizar o tráfico de drogas, o projeto visa também a segurança da circulação dos trens. Segundo a prefeitura, técnicos da CPTM identificaram barracos muito próximos da linha férrea que foram ampliados e estão colocando os moradores em risco. "O reassentamento é inevitável", diz Aparecido.
É interesse da companhia remover as famílias já que a proximidade dos barracos com a linha do trem faz com que muitas vezes a circulação da linha 8-diamante seja interrompida nesse trecho. Ainda não está definido o modelo de financiamento da construção das unidades, mas está descartada a concessão de auxílio-aluguel às famílias. "Estamos com o orçamento todo comprometido", diz diretor da Cohab.
Pertencente a duas empresas privadas, o terreno onde está a favela foi leiloado em 1999 para pagar dívidas de IPTU (imposto predial) do antigo proprietário, a RFFSA (Rede Ferroviária Federal). Moradores entraram com uma ação coletiva de usucapião em 2008, o que foi acatado em decisão liminar na 17ª Vara Federal de São Paulo até o julgamento.
*Com informações da Folha
Foto: Leon Rodrigues/ Secom/ PMSP