Em áudio, executivo da Record negocia entrevista do "nosso número 1" com Aécio em troca de publicidade

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O fato de os "donos da mídia" aparecerem em áudios negociando com investigados por corrupção já havia sido alertado pelo editor da Fórum, Renato Rovai. Gravação mostra que o Planalto teria interesse, em meio à crise política, que o presidente Michel Temer, o "número 1", fosse entrevistado pela Record, mas executivos da emissora teriam colocado como condição ganhar publicidade da Caixa e os intermediadores teriam sido o senador investigado e afastado Aécio Neves e o ministro Moreira Franco. Ouça  Por Redação  Gravações de ligações do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) interceptadas pela Polícia Federal e divulgadas nesta sexta-feira (2) pelo site BuzzFeed Brasil mostram que o tucano teria negociado com executivos da TV Record uma entrevista com Michel Temer em troca de publicidade da Caixa Econômica Federal. Na semana passada, o editor da Fórum, Renato Rovai, já havia alertado para o fato de que os áudios mostram os "donos da mídia" negociando com investigados por corrupção. [caption id="attachment_106883" align="aligncenter" width="326"] Reprodução/Facebook[/caption] Em ligações feitas no dia 19 de abril, Douglas Tavolaro, vice-presidente da Record, diz à Aécio que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência Moreira Franco procurou a emissora para tentar uma entrevista com "o nosso número 1", que seria Temer. "O presidente [da Record] não vai conseguir fazer. Eu já tenho o retorno, já. Entendeu? O nosso presidente [da Record] aqui não vai conseguir fazer. Só tem um jeito de sair. Se tiver uma coisa, entendeu? Eu acho inteligente a estratégia deles, diminui o impacto", disse Douglas. Essa "coisa" que Douglas coloca como condição para que saia a entrevista seria uma publicidade da Caixa Econômica Federal. Ele pede, então, para que Aécio faça a negociação com Moreira Franco. Assim segue o diálogo. Aécio - Deixa eu tentar mesmo por telefone intermediar novamente isso e te ligo. Tavolaro – Se você quiser, na minha opinião, fala como desentendido para saber. Aécio - Com o próprio Moreira, ne? Tavolaro - É, como uma intermediação. Eu nunca falei com ele até agora. Logo na sequência, então, Aécio Neves liga para Moreira Franco e fala sobre a questão da Caixa e a entrevista na emissora. Aécio - Deixa eu te falar, Moreira. É uma questão que corre no paralelo das questões que você está cuidando. Eu cheguei a falar com o presidente algumas vezes do assunto da Record. Você está a par disso? Do assunto do... número 1 lá. Moreira - Tratei disso hoje. Já liguei para o Douglas e não consegui falar ainda. Liguei três vezes. Você que é amigo dele… Aécio - É aquelas coisas que não precisa falar por telefone. Mas você entrou nesse circuito com o cara da Caixa? Moreira - Já entrei. Entrei hoje. Peça para ele me ligar. Aécio - Isso vale a pena. O senador afastado, então, retorna para Douglas Tavoralo, da Record, e reproduz sua conversa com Moreira Franco, e o executivo reforça: "Se ele juntar o pacote e sair, eu agito o nosso de cá". O "pacote" seria a publicidade da Caixa e o "nosso de cá" seria a entrevista solicitada. Tavolaro - Ele tá juntando num pacote. Não tem problema. Se ele juntar o pacote e sair, eu agito o nosso cá, entendeu? Porque eu acho importante a estratégia dele. Aécio - Eu acho bom que a gente faça esse canal porque eu fico com mais autoridade, inclusive do número 1. E ele vai saber que as coisas só vão andar se for por aqui. Porque ele não vai cobrar, ele vai ficar naquela de que está fazendo para todo mundo. E eu só tenho esse compromisso com você, tenho como priorizar com mais rigor. A entrevista acabou não saindo e, em respostas enviadas ao site BuzzFeed Brasil, cada um dos envolvidos deu uma explicação diferente. Confira abaixo, os áudios e, na sequência, as respostas de cada um dos envolvidos. Record “Houve uma solicitação de entrevista com o presidente Michel Temer e a Record TV queria ter a exclusividade e prioridade, naquele momento, e não foi atendida. O Vice-Presidente de jornalismo, Douglas Tavolaro, trabalhava com suas fontes para conseguir as informações e a primazia. O Planalto estava decidindo, através de outra estratégia, de colocar o Presidente para falar, quase simultaneamente, com todos os veículos, como de fato aconteceu com várias emissoras de TV, rádio, jornais e sites. Por mais que o vice-presidente de jornalismo da Record TV tenha elogiado a estratégia, ele defendeu, junto a suas fontes, o desejo de falar primeiro e exclusivamente com o Presidente. Como o Palácio do Planalto optou por outro formato, a Record TV decidiu não fazer a entrevista. Com relação a Caixa Econômica Federal, é um cliente histórico da emissora e o Departamento Comercial da Record TV trata diretamente com a Instituição e seus representantes publicitários, como acontece em qualquer outro veículo de comunicação. O sigilo das relações entre um jornalista e sua fonte são resguardadas pela Constituição Brasileira. O artigo 5º inciso XIV da Constituição diz que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Comunicação Record TV Planalto Em e-mail ao BuzzFeed Brasil, Presidência da República informou que não tem conhecimento de Aécio ter pedido ao presidente Michel Temer em favor da Record na Caixa Econômica, assim como sobre a atuação do ministro Moreira Franco para defender os interesses da emissora no banco estatal. Questionado sobre por que o presidente Michel Temer não deu entrevista à Record em abril, o Palácio do Planalto respondeu apenas: "Não houve pedido." Aécio "São conversas particulares, descartadas pelas autoridades exatamente por não terem qualquer relação com fatos investigados. Os mais de 1 mil diálogos privados equivocadamente distribuídos a jornalistas tiveram seu sigilo novamente determinado pelo ministro Fachin, em razão das garantias constitucionais dadas a todos os não investigados. Não cabe, portanto, comentários sobre os mesmos." Assessoria do senador Aécio Neves Caixa "O ministro Moreira Franco solicitou à CAIXA uma avaliação a respeito da possibilidade de patrocínio ao Grupo Record, que não foi atendido por não se enquadrar na política de patrocínio do banco." Assessoria de Imprensa da Caixa