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Empresas dos filhos de Assad pagaram ao menos R$ 1,2 milhão para firmas de fachada, ligadas a Yunes. Negócios de Temer em São Paulo são abastecidos pelo esquema.
Da Redação com Informações do Estadão
A quebra de sigilo das empresas de Adir Assad, conhecido operador de propinas condenado na Lava Jato, complicou a vida de José Yunes, melhor amigo e ex-assessor de Michel Temer. Os dados revelam que empresas dos filhos do advogado pagaram ao menos R$ 1,2 milhão para firmas de fachada. As empresas de Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes, todas ligadas a Yuny Incorporadora, aparecem em 113 transações com a SM Terraplanagem e em 28 operações com a Legend Engenheiros.
A Legend e a SM, segundo o MPF, não possuíam condições para funcionar e eram emissoras de notas frias utilizadas para produzir dinheiro em espécie que abastecia o caixa dois de empresas interessadas em pagar vantagens indevidas a agentes públicos e partidos políticos.
Entenda o caso
A Fórum tem feito uma série de matérias com base em documentos divulgados pelo blogue Tabapuã Papers. As reportagens têm como ponto central as “relações sombrias” entre José Yunes e Michel Temer. Em torno de offshores no Panamá ligadas a Yunes ou através de “laranjas”, essas empresas ajudaram a financiar obras de prédios comerciais de luxo de propriedade de Temer na capital paulista através de lavagem de dinheiro.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) simplificou em vídeo o funcionamento do esquema. Uma empresa panamenha recebe depósitos em dinheiro e devolve em investimentos no país de origem. A Mossak Fonseca, por exemplo, com quem Yunes mantém vários negócios, opera dessa maneira. Além dela, fazem parte das negociações várias outras empresas suspeitas, como o banco de investimentos chamado Pine, originado de outros bancos de uma família chamada Pinheiro, com raízes no Ceará.
Temer e seu melhor amigo, Yunes
Todas essas negociações têm ligações com os negócios de Yunes no Brasil, que cresceram demais nos últimos anos. Entre eles está a incorporadora Yuny, que fez grandes obras em São Paulo financiados pelo Banco Pine, com recursos do Panamá, da Mossak Fonseca. Alguns destes investimentos feitos pela Yuny são em salas comerciais muito valiosas em grandes espaços de São Paulo de propriedade de Michel Temer.
As negociações revelam uma conexão clara entre Michel Temer, José Yunes, banco Prime, Mossack Fonseca e offshores do Panamá, conforme relata o deputado. O Pimenta diz ainda que falta apenas é a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal juntarem as pontas e iniciarem a investigação.
A delação de Cláudio Mello e as conexões entre Yunes, Assad e Temer
José Yunes, pai de Marcos e Marcelo, deixou o governo após ter sido citado na delação de Cláudio Mello, da Odebrecht. O executivo disse que parte dos R$ 10 milhões solicitados em reunião no Palácio do Jaburu, da qual o ministro Eliseu Padilha e Temer participaram, teria sido entregue no escritório de Yunes, na capital paulista. Depois do episódio, Yunes prestou depoimento na Procuradoria-geral da República e afirmou ter sido utilizado por Padilha, este último o destinatário dos valores entregues pelo corretor Lúcio Bolonha Funaro, preso na Papuda.
Além da SM e Legend, as empresas de Assad – Rock Star, Power To Ten, Soterra e SP Terraplanagem – movimentaram cerca de R$ 1,3 bilhão provenientes de grandes companhias. O empresário teve a prisão preventiva decretada quatro vezes desde 2015. Chegou a ser solto duas vezes, mas foi novamente levado à prisão por decisão do juiz Sergio Moro. Ele foi condenado na Lava Jato a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
No último pedido de prisão contra Assad, os procuradores de Curitiba, no âmbito da operação Dragão, classificaram as empresas Legend e SM Terraplanagem como firmas de fachada. No entendimento dos investigadores, elas “não desenvolvem efetivamente os serviços pelos quais são contratadas” e “funcionam apenas como pessoas jurídicas no processo de lavagem de capitais em favor de dezenas de empresas nacionais, boa parte das quais investigadas no âmbito da Operação Lava Jato.”
A Receita Federal, por sua vez, após uma devassa na Legend e na SM, produziu um relatório no qual afirma taxativamente que, com base em provas “robustas e incontestáveis”, as notas fiscais emitidas pelas empresas são inidôneas. As notas, afirma a Receita, foram emitidas por pessoa jurídica que não existe de fato, apesar de constituída formalmente e não produz qualquer efeito tributário.
A mesma conclusão já havia chegado a CPMI do Cachoeira, desdobramento da Operação Monte Carlo da Polícia Federal que pela primeira vez investigou a relação de Assad com grandes empresas. Segundo a Receita, os dados da CPMI mostram que as empresas de Assad não possuem viabilidade econômica e patrimonial para funcionar o que inviabiliza a prestação de serviço. “Muito provavelmente, a empresa serve como empresa interposta de fachada para a lavagem de dinheiro”, indicou a CPMI.
Segundo o MPF, os pagamentos de grandes empresas para a Legend alcançaram o valor de R$ 631 milhões, entre 2006 e 2012. Nas suas contas, somente a Andrade Gutierrez depositou R$ 125 milhões. O segundo maior pagador, com R$ 37 milhões, é o Consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta Engenharia, responsável pela obra bilionária de reforma na Marginal na capital paulista. A movimentação da SM Terraplanagem é um pouco menor – R$ 199 milhões em créditos desde 2005 até 2012. Quem lidera o ranking feito pelo MPF, e no qual as empresas da família Yunes também estão, é a UTC Engenharia, com R$ 53 milhões pagos à empresa de fachada.
Como revelou o Estado, Assad negocia um acordo de colaboração com a Lava Jato. A tentativa é vista como a chance de Assad, investigado em várias frentes e desdobramentos da Lava Jato, conseguir algum benefício no cumprimento da pena. Como a força-tarefa, tanto em Curitiba como no Rio de Janeiro, já possui uma série de informações sobre suas operações, Assad ficou atrás na corrida das negociações e enfrenta a resistência do Ministério Público nas negociações para reduzir as penas impostas ao operador.