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Segundo pesquisa internacional comandada pela Pew Research Center, e no Brasil elaborada pelo Ibope, apenas 8% dos brasileiros consideram a democracia representativa como uma forma de governo “muito boa”.
Por Lucas Vasques
Os recentes acontecimentos políticos no Brasil, de fato, sinalizam ou pelo menos insinuam a fragilidade da nossa democracia. Além disso, ou a reboque desses fatos, crescem, com assustadora velocidade e intensidade, manifestações de extrema direita, fascistas até, inclusive por parte de instituições que deveriam, por obrigação e vocação, cuidar da manutenção dessa tão surrada e desrespeitada democracia.
Situações quase inimagináveis há poucos anos, como a destituição de uma presidenta eleita pelo voto popular e sem comprovação de ter cometido crime; ascensão de um presidente sem legitimidade, mergulhado até o pescoço em denúncias de corrupção; senadores com responsabilidade comprovada em falcatruas, salvos por articulações de bastidores; censura a eventos culturais e artísticos; prisão sem direito à defesa e ataques torpes às liberdades religiosas, de orientação sexual ou étnicas se banalizaram e passaram a fazer parte de nosso cotidiano. Em resumo, desde a ditadura militar que a combalida democracia não sofria tanto e não corria tanto risco.
O resultado disso é que a maioria da população brasileira está insatisfeita com a democracia. A conclusão é de uma pesquisa internacional, envolvendo 38 países, sobre o apoio a esse modelo, comandada pela empresa norte-americana Pew Research Center. No Brasil, as entrevistas foram elaboradas pelo Ibope, que aplicou o mesmo questionário e a mesma metodologia utilizados nos outros países. A divulgação mundial foi esta semana e, por comparação, a democracia brasileira ficou muito mal colocada no ranking mundial.
Vamos aos números: nos Estados Unidos, mesmo sob a égide do republicano conservador Donald Trump, 48% consideram a democracia representativa como uma forma de governo “muito boa”. Na Alemanha, 46%; na Índia, 44%; na Argentina, 32%. E no Brasil? Pois então, no Brasil, apenas 8%, o que faz com que alcancemos o 33º lugar nesse ranking. Nosso país empata, na margem de erro, com México, Chile e Peru, e só fica à frente de Colômbia e Tunísia.
Uma parcela menor de brasileiros, que chega a 27%, avaliou como positivo um governo conduzido por um líder forte, sem a influência do Congresso ou do Poder Judiciário. O resultado coloca o Brasil praticamente na média mundial (26%) do caudilhismo.
A possibilidade de um governo comandado por militares, contudo, tem apoio mais alto do que na média dos outros países consultados: 31% dos brasileiros acreditam que essa é uma forma de governo “um tanto boa”, e 7%, “muito boa”, num total de 38% de opiniões positivas, contra 55% de opiniões negativas. Os 38% simpáticos ao governo militar estão 14 pontos acima da média global e colocam o Brasil em 12º lugar no ranking do militarismo.
O saldo dessa avaliação é no mínimo preocupante, uma vez que estamos a apenas um ano da próxima eleição presidencial e, o pior, com um militar reformado, com opiniões e ideias anacrônicas, como toda a extrema direita, na segunda colocação na maioria das pesquisas de intenção de voto.
Deterioração
O estudo do Pew Research Center sinaliza para uma explicação sobre as razões que levam ao aumento do apoio a governos autoritários no Brasil. O principal é a rápida deterioração da opinião dos brasileiros sobre como a democracia está funcionando no país. Nada menos do que 66%, ou dois em cada três brasileiros, afirmam que estão muito (10%) ou um tanto insatisfeitos (56%). E esse é um fenômeno bem recente.
No outono de 2013, antes das famosas manifestações de junho, somente 28% dos brasileiros se diziam pouco ou muito insatisfeitos com a forma como a democracia estava funcionando no país. É sinal de que não se trata de uma reprovação ao sistema democrático em si, mas como ele vem sendo manipulado pelos políticos.
Diante desse cenário pouco animador, casos como a submissão do Supremo Tribunal Federal à vontade política dos senadores tendem a aprofundar a crise de representatividade, que faz com que a população questione com veemência o funcionamento da democracia no Brasil. O que, à primeira vista, parece uma vitória para os políticos em geral, na verdade, pode ser um suicídio para um grupo que depende justamente do voto para subsistir.
Infográficos: Adilson Secco
Foto: Commons