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A frase é lembrada para alertar a todos sobre investida fascista que vivemos
Da Redação*
Em excelente artigo publicado na Folha de São Paulo deste domingo (1), o escritor e biógrafo Lira Neto lembra a frase do poeta judeo-alemão Heinrich Heine: "Onde se queimam livros, acabam-se queimando pessoas".
O escritor relembra momentos históricos agudos, como, por exemplo, a ascensão do nazismo na Alemanha, onde tudo começou com a queima de livros: “Com efeito, antes dos campos de extermínio em massa, os nazistas começaram queimando obras literárias, científicas e filosóficas. Em 1933, montanhas de livros, de autores como Albert Einstein, Sigmund Freud, Stefan Zweig e Thomas Mann, foram incineradas em praças públicas pela juventude hitlerista, sob o pretexto de purificar a cultura germânica”.
De lá, para que ninguém duvide que não se trata exatamente de um comunista, Lira Neto lembra Revolução Cultural Chinesa, onde, segundo ele, deu-se o mesmo. “No macarthismo dos Estados Unidos, idem. No Chile de Pinochet, também”, insiste.
O escritor, finalmente, chega ao Brasil: “No Brasil, claro, não escapamos da sanha dos Torquemadas literários. Durante o Estado Novo, romances de Jorge Amado e José Lins do Rego foram queimados, após apreensões em livrarias e bibliotecas, determinadas por interventores e chefes militares. Nem mesmo Monteiro Lobato e suas ‘Reinações de Narizinho’, obra considerada maléfica à infância pelos censores, escaparam da pirocracia”, lembra.
Ao relembrar casos da malfadada ditadura de 1964, com seu habitual e saudável bom humor, Lira Neto cita o caso do que ele chamou de “cretinismo dos repressores, responsável por notas de tragicomédia. Livros sobre arte cubista, por exemplo, eram apreendidos por fazer hipotética propaganda ideológica de Cuba”.
Ao fim e ao cabo, o escritor relembra outro episódio envolvendo tamanha cretinice, desta vez com os militantes do MBL: “Na semana que passou, uma milícia virtual se vangloriou de ter ‘desmascarado’ um repórter deste Folha, Artur Rodrigues, rotulando-o de ‘militante travestido de jornalista’, pelo fato de ele aparecer numa foto diante de alguns livros de estimação, todos muitos seletos, ressalte-se. Entre eles, a biografia de Carlos Marighella, escrita pelo jornalista Mário Magalhães, vencedora de diversos prêmios nacionais, incluindo o Jabuti. De tão obtusa, a afirmativa nem mereceria maiores refutações”.
Para concluir, Lira Neto faz ponderações: “Há quem diga que o melhor mesmo a fazer é ignorar a estridência desse tipo de midiativismo que investe na desinformação, na fragilidade do repertório cultural de seus seguidores e na consequente infantilização do debate público. Levá-lo demasiadamente a sério seria compactuar com um espetáculo bufão, dar cabimento à frivolidade como discurso e prática política.
Tenho cá minhas dúvidas. Primeiro, inviabilizam exposições de arte. Depois, expõem jornalistas à fúria das redes por causa de livros. O que virá em seguida?”
*Com informações da Folha
Foto: YouTube