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Ex-presidente fala em voltar às ruas, cita perseguição contra si (“tem coisa que todo mundo pode, menos esta merda deste metalúrgico”) e provoca a Rede Globo (“frequento as casas dos amigos porque os inimigos não me convidam, eu gostaria de ir no triplex dos Marinho em Paraty”)
Por Leonardo Fuhrmann
Cercado de políticos da base do governo e militantes de alguns dos principais movimentos sociais do País, Lula se apresentou para seu pronunciamento na sede do Diretório Nacional do PT, na região central de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (04/03), com olheiras profundas, expressão cansada e olhos marejados.
Nem os gritos de centenas de militantes do lado de fora, que acompanharam o seu depoimento no aeroporto de Congonhas e depois seguiram o ex-presidente rumo ao centro da cidade, parecia animar o político de 70 anos, que iniciou sua fala com pedidos de desculpas principalmente à mulher, Marisa Letícia, sua companheira há 42 anos, os filhos e os colegas que também foram atingidos pelos mandatos de busca e apreensão, como Paulo Okamoto e Clara Ant.
Mas bastaram apenas os primeiros minutos diante do microfone para Lula recuperar a sua verve e mostrar a força do líder sindical que fez história nos anos 1970 e o presidente que, depois de três derrotas nas urnas, se elegeu duas vezes e conseguiu levar a sua sucessora a duas vitórias. Com um discurso de pouco mais de meia hora, feito no improviso, o ex-presidente defendeu o legado de seu governo sem modéstia, com informações e histórias sobre oportunidades e melhorias das condições de vida das classes mais pobres.
Também conclamou os companheiros de partido e de movimentos sociais a erguer a cabeça para reagir a críticas e perseguições, disse que quem precisa de autonomia é a presidenta Dilma Rousseff (PT), que está sendo impedida de governar e lembrou que sempre acolheu os nomes escolhidos pelas categorias na hora de fazer nomeações, seja de reitores de universidades e institutos federais ou procuradores-gerais da República, no caso do Ministério Público Federal.
O ex-presidente também se defendeu das acusações de que seria dono do sítio em Atibaia, no interior paulista, no nome do empresário Fernando Bittar (filho do ex-sindicalista Jacó Bittar) e de um sócio e do apartamento que diz não ter concretizado a opção de compra no Guarujá, litoral do Estado. Lembrou das críticas à elite que escutava nas conversas com o falecido empresário Octávio Frias, dono do UOL e da Folha de S.Paulo, e atacou antigos adversários, em especial os donos da Rede Globo.
Lula repetiu diversas vezes que estava “magoado” com a forma coercitiva, embora respeitosa, com que foi levado para depor. Lembrou que já foi chamado diversas vezes para depor neste ano e compareceu e apresentou explicações sobre os mesmos fatos que agora lhe foram perguntados. Falou de sua idade e colocou em dúvida se terá condições físicas de disputar novamente a Presidência da República em 2018. Mas destacou os cuidados que tem tido com a saúde e os avanços da ciência.
Mas, ao final, não deixou dúvidas que terá força para continuar na disputa política, Tanto que afirmou que estará à disposição, a partir da semana que vem, para participar de atos e debates pelo país. Só pediu para os autores dos convites providenciarem passagens de avião. “Porque de ônibus demora muito”.