Calero: “Temer disse que eu estava lhe causando dificuldades operacionais”
Ex-ministro disse que ficou chocado em ver como “interesses particulares ainda podem prevalecer”. Ele denunciou pressão para que empreendimento em local tombado de Salvador fosse liberado, contrariando decisão do Iphan
Ex-ministro disse que ficou chocado em ver como “interesses particulares ainda podem prevalecer”. Ele denunciou pressão para que empreendimento em local tombado de Salvador fosse liberado, contrariando decisão do Iphan
Por Adriana Delorenzo
O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero afirmou, em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, exibida no Fantástico deste domingo (27), ter ouvido do presidente Michel Temer que ele estava “lhe causando dificuldades operacionais”. As dificuldades seriam o parecer do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) não autorizando a construção de um edifício de 30 andares na Ladeira da Barra, em Salvador.
Além das “dificuldades operacionais”, Temer afirmou que “Geddel teria ficado muito irritado”. E que Calero deveria enviar a questão à Advocacia Geral da União (AGU). “Queriam que eu criasse uma chicana jurídica para que o caso fosse levado à AGU”, disparou.
O ex-ministro disse ter ficado chocado ao “ver que interesses particulares ainda podem prevalecer” e como “altas autoridades da República perdiam seu tempo com um assunto de interesse pessoal de um ministro”.
Geddel seria proprietário de um apartamento avaliado em R$ 2,6 milhões no prédio, mas a construção foi embargada pelo Iphan. Para o órgão, o edifício de 30 andares e 107 metros destoaria dos demais da região, ao lado de locais históricos, e o projeto deveria ser readequado para 13 andares.
Além de ter sido pressionado pelo ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, Calero afirmou que o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também o procurou para que o caso fosse para a AGU. Geddel acabou pedindo demissão na última sexta-feira (25).
Calero afirmou que ele tem gravações telefônicas, mas que não existe nenhuma feita em audiência com Temer. Ele, no entanto, não revelou com quem teria conversas gravadas. “Jamais entraria num gabinete presidencial com uma ferramenta dessa natureza. Começaram com boataria, isso é absurdo, para desviar o foco das atenções. Jamais faria qualquer negócio para preservar cargo nenhum”, completou.
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