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Advogado que defende Ricardo Pessoa, dono da UTC, questiona a imparcialidade do juiz Sérgio Moro na operação
Por Karolina Bergamo
Quem acompanha o mundo dos esportes sabe que é comum que um time de futebol, ao ser desclassificado de um campeonato, ainda tenha que jogar algumas partidas, pois já estavam agendadas. O time faz isso apenas para cumprir tabela, pois não tem mais chances de vencer a competição. O criminalista Alberto Toron, que atua na área há mais de 30 anos e é um dos mais conhecidos do país, compara o que acontece no mundo futebolístico com a Operação Lava Jato - maior investigação de corrupção da história do Brasil, segundo a Polícia Federal.
Em entrevista coletiva concedida na manhã deste sábado (30), em São Paulo, o advogado que defende Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou que os envolvidos nas investigações estão cumprindo uma espécie de cronograma, pois o Juiz Sérgio Moro – quem conduz os trabalhos da operação - já teria demonstrado a parcialidade de seu ponto de vista em diversas situações. Ele citou como um exemplo disso o uso das informações de uma reportagem da Revista Veja como base para decretar a 2ª prisão preventiva de alguns acusados que já estavam presos. A reportagem dizia que advogados de réus da Lava Jato se reuniram com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em um encontro extra-oficial.
Além disso, afirmava ainda que Cardozo teria dito “que a Operação Lava-Jato mudaria de rumo radicalmente, aliviando as agruras dos suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro”. Para Toron, a decisão foi parcial pois “ele não investigou para saber se houve realmente o tal encontro, ou para saber o que, de fato, foi tratado nele”. No fim das contas, através de outra reportagem da mesma revista, foi exposto que, na verdade, o Ministro havia chamado os advogados para pedir que controlassem o uso das delações premiadas. E ainda assim, “ele [Moro] não revogou os pedidos, e nem pediu desculpas.”, criticou o advogado.
Para ele, esse tipo de atuação, além de incorreto, conta com o respaldo da mídia e da sociedade: “A imprensa não tem publicado o que desconstrói essa imagem do juiz-herói. Talvez venda mais jornal mostrar que alguém é culpado, maldoso e merece ser punido. Porém, há uma disparidade entre aquilo que é veiculado e o que realmente acontece”, analisou.
Conhecido por sua atuação mais “garantista”, o advogado é contra o viés “punitivista” com que o Direto penal é muitas vezes exercido. “Na Lava Jato, as pessoas foram presas ainda na fase de inquérito, tratadas como se fossem culpadas. E aí ocorre uma inversão: a pessoa, que deveria ser presumida inocente, já é presa com um discurso que apresenta pressupostos cautelares, que não existem”.
A entrevista coletiva foi concedida aos estudantes de jornalismo que participam que participam do Curso de Direito de Defesa e Cobertura Criminal, promovido por: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji, Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD e OBORÉ – Projetos Especiais em Comunicações e Artes, em São Paulo.
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Foto: Nelson Jr/SCO/STF