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Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ex-governador de São Paulo aponta que alguns senadores tucanos "nutrem ódio que não é próprio da democracia", referindo-se a Aloysio Nunes, e diz que "a burguesia foi às ruas, o povão ainda não"
Por Redação
O ex-governador de São Paulo Claudio Lembo, que à época dos ataques feitos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo, em 2006, celebrizou a expressão "elite branca", dizendo que a burguesia "teria que abrir a bolsa", voltou à carga. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o advogado, filiado ao PSD, distribuiu ataques ao PSDB, em especial ao ex-presidente FHC, mas também ao senador paulista Aloysio Nunes e ao ministro da Fazenda Joaquim Levy, atribuindo a ele um modo de se manifestar "um pouco autoritário".
Em relação ao fato de ter destacado o papel da burguesia nacional na perpetuação das desigualdades sociais no Brasil, ele disse ter sido "profético" na ocasião. "Deus fala pela boca dos loucos. Naquela época, aproveitei e falei. Disse que a minoria branca estava extremamente agressiva, por causa do PCC. Agora vejo a minoria branca toda na carceragem da Polícia Federal em Curitiba." Para ele, a corrupção está em outras áreas, e não só na Petrobras. "Se levantarem as tampas, vai ser muito complicado. A burguesia não quer que tampas sejam levantadas. Basta a Petrobras."
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Sobre o esquema de desvios na estatal, o ex-governador disse que "desde os tempos do Império, são sempre os mesmos [empreiteiros]", qualificando a questão como uma "endemia". "É uma endemia complexa e complicada. Não é brasileira, é internacional, mas a brasileira é pior." Para ele, no governo FHC houve um "desmonte" em termos de planejamento. "O governo do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, desmontou o que era planificação. Hoje o Estado brasileiro não tem nada de planejamento. É o empreiteiro que leva o projeto que interessa e ele e nem sempre ao Estado nacional", pontuou.
Lembo atacou também a mudança feita no período tucano na relação entre a empresa petrolífera e a Lei das Licitações. "A gente precisa analisar a mudança da 8666 [Lei de Licitações], no governo Fernando Henrique Cardoso, permitindo à Petrobras que não fizesse licitação, apenas chamada. Deu dinâmica à Petrobras, mas deu também uma liberdade muito grande", disse, criticando também em seguida o ex-presidente Lula. "Outro ponto foram os exageros do governo Lula, que acreditou que o Brasil era uma grande potência. O Brasil não é uma grande potência A área de petróleo é muito complexa. Com o pré-sal, enlouquecemos."
O advogado disse ainda que a "elite branca" está nas ruas, mas também a classe média, que estaria sendo "injusta" em relação ao governo. "Quem viu a Avenida Paulista no domingo, viu a classe média. E é bom que ela se movimente. A classe média é muito parada, muito sem vibração política. Mas ela está sendo injusta, porque ganhou muito no período Lula-Dilma. Eles não mexeram no bolso da classe média", afirmou, avaliando que "a burguesia está na rua. O povão ainda não". Teremos um "momento difícil para o Brasil para os próximos meses", acredita Lembo, que questionou a postura do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "Ele tem sido um pouco autoritário ao se manifestar. Impõe o que ele quer. Parece o regime militar".
Para o ex-governador paulista, o PMDB é um partido "que caracteriza bem as qualidades e os defeitos dos brasileiros" e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, lembraria Carlos Lacerda. "É o carioca inteligente, pertencente àquela elite médica carioca, que é boa, intelectualmente preparada. O Cunha é sádico, duro, inteligente e tem carisma." De acordo com Lembo, os peemedebistas tem uma "linguagem popular", ao contrário do PSDB. "Tucano não sabe transmitir e é odiento. Alguns senadores tucanos do Senado nutrem ódio que não é próprio da democracia. Um senador não pode dizer 'quero vê-la sangrar'. É feio", falou, referindo-se à declaração do parlamentar paulista Aloysio Nunes.
De acordo com o advogado, a insatisfação popular seria ainda pior caso Aécio Neves (PSDB) tivesse vencido as eleições. "O que a burguesia não percebeu, porque é muito imediatista, é que se a vitória não fosse da Dilma, ia ser muito pior o movimento de rua. Ia ser uma coisa muito pior, agressiva", afirmou. "Acho que se o Aécio ganhasse o quadro social seria muito mais grave, porque o atingido seria outro público."
Foto: Ricardo Stuckert/PR