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Para ex-ministro dos governos Sarney e FHC, o PSDB passou a advogar o impeachment, como se o Brasil estivesse ainda nos anos 1950, no tempo da UDN também liberal, conservadora e golpista
Por Redação
O economista e ex-ministro nos governos Sarney e FHC, Luiz Carlos Bresser-Pereira divulgou uma análise sobre a conjuntura brasileira. Em sua opinião, o ajuste fiscal optado pelo governo “se justifica porque é condição de recuperação da confiança”. Do ponto de vista político, Bresser-Pereira destaca que após a reeleição de Dilma Rousseff em vez de a oposição ajudar a presidente a governar, passou a advogar o impeachment.
Leia abaixo texto do autor divulgado em seu Facebook.
O Brasil vive um momento cheio de contradições. No curto prazo há uma relativa crise econômica causada pelo fato que o superávit primário zerou e a inflação aumentou - o que levou o governo a uma crise de confiança nos mercados financeiros nacional e internacional. Para enfrentar o problema o governo decide pelo ajuste fiscal, embora o desemprego esteja aumentando, mas que se justifica porque é condição de recuperação da confiança.
No mesmo curto prazo, há uma grave crise política, que começou dois anos antes da eleição, quando aos erros do governo na área econômica, que levaram à crise de confiança, somou-se o julgamento do mensalão. A partir desse momento os ricos inclusive a alta classe média passaram a olhar o PT e a presidente com ódio - algo que eu nunca havia visto no Brasil. E esse ódio apenas aumentou quando Dilma Rousseff foi eleita por pequena maioria. Ao invés de dizerem-se a si próprios que agora tratava-se de ajudar a presidente a governar, as elites continuaram indignadas. Do que se aproveitou o partido liberal-conservador - o PSDB - a advogar o impeachment, como se o Brasil estivesse ainda nos anos 1950, no tempo da UDN também liberal, conservadora e golpista.
Terceiro, o país vive uma quase-estagnação de longo prazo. Entre 1981 e e 2014, a taxa média de crescimento per capita foi de 0,94% ao ano. Se excluirmos um período excepcionalmente negativo (os ano 1980, em que o país estagnou devido à crise financeira da dívida externa) e se também excluirmos o boom de commodities (2004-10), essa taxa é ainda menor: 0,78% ao ano.
Essa crise decorre, no plano político, da perda de ideia de nação que nos torna incapaz de criticar as políticas econômicas que nos são recomendadas pelos países ricos e pela alta preferência pelo consumo imediato que elites e povo demonstram no Brasil. São essas duas distorções que explicam que explicam a incapacidade dos brasileiros de enfrentar e resolver os dois principais fatos históricos novos que explicam essa quase-estagnação.
Primeiro, desde os anos 1980 o Estado brasileiro deixou de ter uma poupança pública de 3% do PIB e passou a ter uma despoupança pública de 2% - o que representa 5% do PIB de perda de investimentos.
Segundo, desde 1990-91, quando houve a abertura comercial, o Brasil deixou de neutralizar a doença holandesa, que antes estava embutida no sistema comercial, e, em consequência, as empresas brasileiras industriais e de serviços comercializáveis (tradable) passaram a ter uma desvantagem competitiva de cerca de 20% em relação às empresas dos demais países que exportam para terceiros países.
A análise dessa crise de longo prazo está em meu artigo ainda não publicado, mas que acabo de colocar em meu site, "A quase-estagnação brasileira e sua explicação novo-desenvolvimentista", que poderão ler no link http://bit.ly/1C9p5h5
A crise econômica de curto prazo foi causada pelos erros cometidos pelo governo desenvolvimentista nos últimos dois anos. Neste ano teremos aumento do desemprego e recessão, mas o ajuste fiscal é inevitável, porque é condição do retorno da confiança.
Mas, ao contrário do que pensam os economistas liberais, o ajuste não resolverá o problema econômico de longo prazo, que só se resolverá quando os brasileiros voltarem a pensar com sua própria cabeça, lembrando que são uma nação, e quando conseguirem rejeitar a preferência pelo consumo imediato, que se expressam em poupança pública negativa e elevados déficits em conta-corrente. Déficits e despoupanças que limitam tanto os investimentos privados como os públicos, que são essenciais para a retomada do crescimento.