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Inspirados nos movimentos da Bolívia, Equador e Espanha, cerca de 100 pessoas se reuniram nesta sexta-feira (16) para discutir a construção de uma nova força política
Por Marcelo Hailer
Cerca de 100 pessoas se reuniram nesta sexta-feira (16) para discutir a construção de uma força política não mais pautada pela “vanguarda”, mas sim “pela retaguarda e que sirva de apoio aos movimentos sociais e a população”, explicou Celio Turino, um dos articuladores do grupo que, provisoriamente, se chama Avante! De acordo com Turino, a inspiração do grupo vem das experiências da Bolívia, Equador, Grécia e Espanha.
“O que nos inspira?”
Celio Turino, historiador e criador do programa Cultura Viva, durante a sua passagem pelo Ministério da Cultura (2004-2010), abriu os trabalhos explicando as motivações e inspirações do grupo. "O que nos entusiasma? José Mujica (Uruguai), a Islândia, que era um paraíso fiscal e o povo foi pra rua, depôs o governo e puseram os banqueiros, que levaram o país à crise, na cadeia", explicou o idealizador do novo coletivo.
Posteriormente, Celio Turino revelou outras inspirações do grupo, que se formalizou no final do segundo turno das eleições presidenciais de 2014. "Não podemos ficar contra partidos, mas sim contra castas que se apoderaram do Estado. Nós somos tomados por castas desde as capitanias hereditárias", criticou Turino.
O idealizador do Coletivo Avante! (nome provisório),também falou a respeito da "nova política", que, em sua concepção a "nova política é o sonho que nunca envelhece". Por fim, Turino deixou claro que a ideia do partido-movimento não é ser um "partido de vanguarda, como eram os da esquerda clássica, mas sim um partido de retaguarda, que sirva de apoio à população".
Do 15M ao Podemos
O segundo momento do encontro foi marcado pela conferência do pesquisador e ativista Javier Toret, que participou do movimento 15M que, em 2011, ocupou praças centrais na Espanha, entre elas a Praça do Sol, que se tornou símbolo do movimento que se articulou contra as políticas de ajuste fiscal do governo.
O ativista mostrou como foi a articulação do movimento pela rede e nas ruas e como os encontro dessas duas camadas foi “fundamental” para o êxito dos coletivos. Javier Toret revelou que no início das ocupações das praças a imprensa local não noticiava os atos, então, para quebrar o bloqueio midiático espanhol os ativistas utilizaram a rede e começaram a enviar fotos e relatos à imprensa internacional e que, de acordo com Toret, foi um momento fundamental à ascensão das manifestações.
Com a ascensão do 15M, Javier Toret relatou que, a partir daí se criaram duas frentes: a Rede Cidadão e o Partido X, projetos que culminariam no Podemos. Segundo Toret, o grande trunfo do Podemos foi se apropriar da comunicação de massa para disputar a opinião pública e que neste caso houve o encontro das três camadas: Ruas, rede e televisão.
Outro fator, segundo Toret, que está fazendo do Podemos um fenômeno político são as linhas políticos-teóricas: pautados pela ideia da Centralidade, os dirigentes do partido espanhol não se definem como "esquerda ou direita, mas sim como a maioria central, nem à direita do PP e nem à esquerda do PSOE". De acordo com Toret, esta base política está, principalmente, "roubando" toda a base social do PSOE, “que até hoje era a principal força política da Espanha”.
“O Congresso Nacional está carcomido”
A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) foi a última a falar no evento. Muito aplaudida, Erundina declarou que não adianta centrar as esperanças na “reforma política”, pois, de acordo com a deputada não adianta reformar um “tecido que está podre” e que é necessário criar espaços de fazer política para além do institucional, pois, “o Congresso Nacional está carcomido”, criticou a deputada socialista.
A parlamentar também falou que o Brasil vive o “fim de um ciclo histórico” e que o cenário político pode estar diante do nascimento de “um novo ciclo histórico”. Erundina, que também está na articulação nacional do Avante! falou sobre a sua crise com o PSB. “Estou vivendo uma crise partidária e quando não vivo uma crise partidária, né?”, brincou. “Mas que bom, pois, do contrário, se eu não estivesse em crise, eu estaria morta politicamente”, disse Erundina.
Ex-prefeita de São Paulo pelo PT (1989-1993), Luiza Erundina declarou que após “35 anos, as grandes reformas (agrária e da comunicação) não foram feitas e pior, por governos que eram nossos”. A deputada também criticou os sindicatos e afirmou que estes “não estão mais na disputa política”.
Por fim, Luiza Erundina classificou a reforma dos meios de comunicação como a “mais importante”. “Se fizermos a reforma dos meios de comunicação, haverá uma cascata e todas as outras reformas vão acontecer. São 40 anos dos mesmos grupos donos da mídia”, finalizou Erundina.
Foto: Pragmatismo Político