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Substituição do filósofo e professor da USP por Gilberto Maringoni, como candidato do PSOL ao governo de São Paulo, provoca racha no partido
Por Igor Carvalho
O filósofo e professor da USP, Vladimir Safatle, criticou o PSOL, que anunciou o também professor Gilberto Maringoni como seu pré-candidato ao governo de São Paulo. “No dia 13 de maio eu disse para o Diretório Nacional que aceitava ser candidato caso houvesse estrutura para a candidatura. Eu não desisti, a candidatura foi abandonada.”
A indicação do professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Maringoni, provocou um racha no partido. Membros e suplentes do Diretório Estadual do PSOL, em carta à militância, criticaram a troca de candidato, que chamaram de “lamentáveis e irresponsáveis decisões da maioria da direção do partido (Unidade Socialista) tomadas neste domingo em reunião do DE-PSOL.”
No documento, os membros do PSOL afirmam que condições impostas por Safatle ao partido, para que a candidatura fosse viável já eram possíveis, como uma candidatura única de esquerda, unindo PSTU, PCB e o próprio PSOL, além de uma estrutura “mínima necessária” para que o filósofo disputasse a eleição com chances maiores. Neste último item, entende-se como ampliação dos recursos financeiros da campanha.
“Existia uma condição mínima de valores para a campanha existir, para que houvesse condições da candidatura acontecer, isso não foi atendido pelo partido”, afirma Safatle, que alega ter conseguido arrecadar 50% do montante necessário para a campanha. “Quando consegui o dinheiro fui procurar o partido para conversarmos, mas me disseram que eu não era mais o candidato”, disse o filósofo em entrevista ao SPressoSP.
Em carta aberta à militância, Safatle volta a criticar o partido. “Durante várias vezes que discuti a infraestrutura para a campanha, ouvi que 2% de votos estaria bom. Não penso assim, acho este raciocínio completamente equivocado e se pensasse desta forma, não teria aceito entrar no debate em torno da candidatura. Queria saber a quem interessa que nosso partido continue pequeno.”
O PSOL afirma que foi comunicado por Safatle, no último dia 10 de maio, da sua desistência de ser candidato ao governo de São Paulo. Dessa forma, convocou uma reunião do Diretório Estadual para o último domingo (18), quando acertou a candidatura de Maringoni.
[caption id="attachment_29460" align="alignleft" width="300"] Troca de e-mais entre Safatle e tesoureiro do PSOL (Imagem: Reprodução)[/caption]
Uma troca de e-mails de Safatle com o tesoureiro do PSOL, José Ibiapino, comprova que o filósofo combinava com o partido o teor de uma carta de desistência da candidatura.
Safatle alega que a carta com a desistência tinha a função de circular internamente e “apaziguar alguns conflitos dentro do partido”, mas não significava que ele havia desistido do pleito. “Enquanto escrevíamos a carta, eu negociava com o diretório nacional do partido a minha candidatura, fechando valores e vendo a possibilidade de uma aliança política." Para o filósofo, o vazamento do documento é "lamentável". "É absolutamente execrável que tenha vazado esse e-mail, não condiz com um partido que carrega a palavra 'liberdade' no nome."
A carta, redigida em conjunto com o filósofo, dizia: “Na manhã do último sábado, 10 de maio, o professor Vladimir Safatle comunicou à Direção Estadual do PSOL SP sua decisão de não ser candidato a governador de São Paulo. Evidentemente esse desfecho não foi o desejado pela militância do partido, e nos coloca, às vésperas do início do processo eleitoral, a necessidade de definir um outro nome capaz de fazer a disputa”.
Frente de esquerda
Apresentada como condicionante para a campanha, uma aliança entre partidos de esquerda era fundamental para que Safatle aceitasse a candidatura.
“Eu cheguei a dizer que sem essa aliança, a candidatura não aconteceria. Sei que tem setores do partido que são contra, mas não tem sentido apresentar uma candidatura de esquerda fragmentada, o Brasil precisa reconfigurar sua esquerda”, disse Safatle.
O PSOL afirma que Safatle demorou para se definir sobre a candidatura. “Houve um entendimento majoritário no interior do partido da necessidade de escolha de um novo nome, uma vez que o tempo hábil para construir uma candidatura tornou-se exíguo e o partido precisa, em tempo recorde, articular alianças, definir nomes para o Senado, vice-governador e a chapa de candidatos proporcionais”, alegou o partido, em comunicado enviado ao SPressoSP.
Procurado pela reportagem, Gilberto Maringoni, que no último domingo (18) não quis comentar as acusações de Safatle, não foi localizado nesta segunda-feira (19) para comentar a substituição.