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Do outro lado, Alckmin pavimenta o seu nome para 2018 construindo parcerias com o governo federal e lembrando que a eleição acabou
Por Marcelo Hailer
No dia 26 de outubro, por volta das 22h, quando foi oficializada a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) discursou do saguão de um hotel de Belo Horizonte e enfatizou na sua fala a “união do país”, pois, de acordo com a leitura tucana, o Partido dos Trabalhadores promoveu a divisão do Brasil entre “eles e nós”. Com a declaração, Aécio deu sinais de que faria uma oposição dentro dos marcos legais do espaço estipulado pelo Congresso Nacional. Doce ilusão.
Dois dias após a sua derrota para a candidata do PT, ele divulgou um vídeo na internet em que retomava o tom discursivo da eleição de que o governo petista é o mais corrupto da história. Alguns dias depois, o seu retorno ao Senado foi notícia em todos os portais. A partir de então, juntamente com parte da imprensa, potencializou-se o noticiário na operação Lava Jato, da Polícia Federal, e um verdadeiro bombardeio sobre o governo reeleito não cessou. A impressão que fica, a cada dia que passa, é que estamos diante de um fim de governo, quando, na verdade, resta um mandato inteiro pela frente.
Neste mesmo ínterim, as manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff e também pela intervenção militar ganharam as ruas de São Paulo e de outros estados e chamaram a atenção, social e da imprensa, por conta do viés reacionário e violento. Num primeiro momento, lideranças do PSDB correram para dizer que nada tinham a ver com passeatas pró-militares e que aqueles que apoiam tal ideia deveriam deixar o partido. Por um instante, a seara tucana até convenceu de que, de fato, não iria compor movimentações golpistas, mas, no cruzamento, extremou à direita.
Na semana passada, ficou claro o caminho escolhido pelo senador Aécio Neves e parte do PSDB: ser liderança de um movimento que, derrotado nas urnas, não consegue dormir com a derrota. E agora buscam, por variados caminhos, desestabilizar as instituições do país, construir um clima de tamanha tensão, dentro e fora do Congresso Nacional – basta dar uma volta nas recentes manifestações para se entender do que esse povo é capaz – para, assim, criar uma narrativa que dê espaço constitucional para um impeachment ou mesmo um golpe. Não é à toa que Aloysio Nunes (PSDB-SP), José Serra e o próprio Neves utilizaram as redes para convocar as pessoas a participarem da última marcha anti-governo.
Resta saber se a estratégia pelo terrorismo político com foco na desestabilização institucional se sustenta ou, pelo menos, aguenta até 2018. Resta, também, saber se o senador Aécio Neves conseguirá se manter como “liderança” até lá.
O caminho de Alckmin
No mesmo dia em que Aécio Neves discursava e protestava por conta de “cidadãos” terem sido expulsos das galerias do Congresso Nacional, quando na verdade se tratava de gente filiada ao PSDB e adeptos do movimento pró-intervenção militar que estavam lá para tumultuar e ofender parlamentares mulheres, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e a presidenta Dilma Rousseff assinavam uma parceria em que o estado paulista vai receber R$ 3,2 bilhões para serem investidos em obras para transporte e abastecimento de água. No discurso, tanto Dilma quanto Alckmin ressaltaram o fim da eleição, das diferenças partidárias e da importância do trabalho em equipe entre estado e federação.
A fala da petista e do tucano foi um claro recado aos setores mais extremados dos dois partidos que não dão como findada a disputa eleitoral. Dilma Rousseff já deixou claro que não vai deixar o jogo e o Geraldo Alckmin avisou que não vai seguir Aécio Neves em sua estratégia para desestabilizar o governo, até porque o PSDB paulista possui um teto de vidro chamado cartel do transporte metroviário de São Paulo, ou mais comumente “trensalão”.
Com a aprovação do projeto de lei que modifica a meta de superávit primário, Aécio Neves e os seus correligionários do “Vem pra rua” vão perder gás. Porém, há de se esperar os resultados da operação Lava Jato, que devem atingir quadros do PT e do PSDB. Com isto, para onde correm os grupos a favor da intervenção militar e do golpe? E o Aécio, onde fica? É nesta encruzilhada que a tática de Alckmin se fortalece e a aposta de terrorismo político de Neves não deve durar dois carnavais.
A recente pesquisa realizada pelo Ibope deve ter sido um balde de água fria para o senador tucano: quase 50% da população identifica o governo de Dilma Rousseff como aquele que mais combate a corrupção; mais de 50% apostam na democracia e, por fim, mais de 60% da população aprova o governo da presidenta. Resultado: a turma golpista não atinge 5% da população brasileira, que aposta no regime republicano democrático e aprova a atual gestão.
Ao que tudo indica, Aécio Neves perdeu o segundo turno, vai perder o “terceiro” e se, de fato, apostar na estratégia de desestabilizar o governo, deve ficar isolado com a minoria golpista. Isso não significa que o Palácio do Planalto terá bons dias pela frente, muito pelo contrário, e a votação da nova meta de superávit primário foi um bom exemplo disso.
Por fim, o que mais grita de toda essa situação é o silêncio sepulcral do PT, setores aliados e do próprio governo federal. É preciso que haja uma reação para que fique claro que a eleição acabou e que a presidenta foi reeleita. O clima atual é de derrota e, por hora, quem está surfando nessa onda de apatia que se abate sobre os setores da esquerda são reacionários e grupos pró-intervenção militar, que estão ocupando ruas e avenidas a cada 15 dias e a impressão que fica é que os setores progressistas assistem a tudo acuados à espera de que algo aconteça... O despertar pode ser tardio.
Foto: Pragmatismo Político