Bancadas se articulam para condicionar apoio à candidatura do PT, ou outro nome que seja definido pelo governo, a indicações para ministérios por integrantes dos seus partidos
Por Hylda Cavalcanti, da Rede Brasil Atual
O que todo mundo já sabia, mas era comentado apenas nos bastidores, agora está explícito de uma vez por todas: as articulações para a presidência da Câmara dos Deputados, que tanto têm preocupado o governo nos últimos dias, passam diretamente pela discussão sobre os nomes a serem indicados para compor o novo ministério da presidenta Dilma Rousseff. Foi este o tema que monopolizou as principais conversas realizadas na última terça-feira (11) entre integrantes das bancadas partidárias, sobretudo as do PP, PSD e PMDB.
Ao menos estas três legendas discutem possíveis arranjos a serem levados ao Executivo, para que somente depois possam avaliar qual o candidato que apoiarão à sucessão de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) – atual presidente da casa. Enquanto se reúnem e decidem sobre a relação que passarão a ter com o governo – assim como aguardam um encontro dos parlamentares com a presidenta Dilma Rousseff e sua equipe, conforme prometido na semana passada –, tais bancadas articulam estratégias sobre o espaço que poderão ocupar a partir de 2015.
Por parte do PP, a briga é para que a legenda mantenha o controle do Ministério das Cidades, hoje comandado pelo ministro Gilberto Magalhães Occhi, substituto de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que deixou o cargo para disputar a reeleição como deputado federal. O PR, por sua vez, quer continuar com o Ministério dos Transportes, há anos nas mãos da legenda, e que hoje tem como ministro o técnico Paulo Sérgio Passos, que desfruta da simpatia da presidenta.
No PMDB, além de a bancada vir trabalhando para manter o ministro Edison Lobão (MA) no Ministério de Minas e Energia – o que é pouco provável que aconteça – os deputados e senadores resolveram iniciar uma operação tangencial para chegar até os nomes mais desejados ao primeiro escalão. A primeira manobra foi dada ontem, com a indicação, pelo partido, do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) – constantemente incluído na lista de ministeriáveis – para substituir, no Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro José Jorge Vasconcelos, em vias de se aposentar.
A estratégia é clara: deixar, com a ida de Vitalzinho (como o senador é conhecido) para o TCU, o caminho livre para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que perdeu a eleição para o governo do seu estado, ser indicado para um ministério – muito provavelmente o da Integração Nacional.
No PSD, a disputa também tem sido mais de caráter interno. Os integrantes do partido têm questionando o fato da hegemonia da indicação a um ministério ser do criador da legenda, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, argumentando se isso não provocaria um conflito com o papel exercido hoje por Kassab dentro do diretório nacional da sigla. Destacam, ainda, o fato da grande quantidade de políticos de outras regiões do país filiados ao PSD também ter direito a ser contemplada com uma pasta como ponto importante para a atuação do PSD de 2015 em diante.
Como compensação, articulam que a legenda possa vir a receber um segundo ministério, ou manter a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (com status de ministério), hoje comandada por Guilherme Afif Domingos. O secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, no entanto, desconversou. “A linha que estamos adotando é de não pressionar. Vamos deixar qualquer decisão a critério da presidenta", frisou ele.
Queiroz disse, ainda, que o partido sabe que Dilma Rousseff precisará de uma equipe técnica bem preparada e considera que existem bons quadros dentro do PSD. "Sabemos que ela (a presidenta) enfrentará dificuldades no seu segundo governo, precisa de uma equipe desvinculada do ponto de vista partidário, mais técnico. E ela sabe que no PSD existem excelentes nomes. Se tivermos dois ministérios, será porque o governo entendeu que deve nos dar estes dois ministérios”, acrescentou.
Entrega de cargos
Instalada a confusão, e também diante do desconforto provocado pelo pedido de demissão da ministra da Cultura, Marta Suplicy, que pegou de surpresa o Palácio do Planalto no primeiro dia de viagem internacional da presidenta Dilma, o governo resolveu se antecipar e solicitou aos ministros que coloquem seus cargos à disposição. O intuito, que já tinha sido sugerido anteriormente pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é deixar a presidenta mais à vontade para conduzir a reforma ministerial, logo que retornar de viagem.
Enquanto isso, ficou acertada para a próxima quinta-feira (13) reunião do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, e Mercadante com a bancada do PT na Câmara, para definir um nome do partido que tenha condições de concorrer à presidência da Casa em pé de igualdade ou mesmo superando o líder do PMDB Eduardo Cunha (RJ). Candidatíssimo, Cunha é tido como um dos principais adversários do governo na votação de matérias encaminhadas ao Congresso, nos últimos anos.
Para a maioria dos deputados da base aliada, a palavra chave é “diálogo”. “Pretendemos estreitar o diálogo sim, a presidenta já disse isso e deu sinais de que não apenas seu governo como ela própria terá mais contato com os deputados, na reunião da última semana, no Palácio da Alvorada. Ela está empenhada em fazer com que os deputados sejam mais ouvidos e bem atendidos nos ministérios para apresentar suas demandas”, afirmou o deputado José Guimarães (PT-CE).
“A intenção é indicar o candidato do PT à presidência da Casa ainda esta semana”, acrescentou o líder dos petistas na Casa, deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. “A presidenta tem dado sinais de que quer ajudar, colaborar mais com os parlamentares e isso vai, de fato, contribuir para melhorar o nosso diálogo com o Executivo”, reiterou o deputado Lincoln Portela (PR-MG).
Menores partidos
Numa outra esfera, também está agendada para hoje (12), a reunião das bancadas dos dez menores partidos, que pretendem formar um bloco para decidir de que forma poderão negociar o apoio à sucessão na Câmara e, assim, conseguir espaço nas composições das comissões técnicas da casa. São estes o PHS, PRTB, PTC, PMN, PTN, PHS, PTdoB, PRP, PEN, PSL e PSDC, que no total possuem 24 deputados.
“Nossa ideia é formar um bloco, para ter voz mais ativa, mas tudo ainda está sendo discutido, inclusive a possibilidade de se formar um grupo mais amplo com outras legendas, como o Pros e o PRB”, contou o presidente do PHS, Eduardo Machado, que descartou qualquer decisão de apoio ou não ao governo.
“É muito cedo para discutirmos esse assunto. Antes de mais nada precisamos ter uma posição independente, de acordo com o que acharmos correto. Não estamos pensando em ser uma bancada governista decididamente, nem necessariamente oposicionista. Isso é conversa para um segundo momento”, destacou Machado, embora sabendo que estses 24 deputados podem fazer toda a diferença na decisão pelo sucessor de Henrique Alves em janeiro – ou na aprovação de determinado projeto no plenário da casa nos próximos quatro anos.