Em entrevista para a TV Fórum, a deputada federal falou sobre sua saída da chapa e reafirmou seu apoio ao candidato petista
Por Felipe Rousselet
[caption id="attachment_16645" align="alignleft" width="300" caption="Erundina reafirmou seu apoio ao candidato petista Fernando Haddad (Foto: Valter Campanato / Abr)"][/caption]A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) concedeu entrevista hoje pela manhã para a TV Fórum, que iniciou parceria com a Pós-TV do Fora do Eixo. A conversa foi mediada pelo editor da Revista Fórum, Renato Rovai, e pelo professor e sociólogo Sérgio Amadeu. O principal tema do debate foi a saída de Erundina da chapa de Fernando Haddad. Mas a deputada também falou sobre sua relação com o PT, democratização do poder e da comunicação, cultura digital e a forma como São Paulo é administrada.
Mesmo declarando que se sentiu agredida pela forma como foi consolidado o apoio do PP, de Paulo Maluf, à candidatura petista em São Paulo, ela reafirmou seu apoio ao candidato Fernando Haddad.
Segundo ela, sua desistência da candidatura foi uma decisão difícil. “Foi um momento traumático. Estava entusiasmada para integrar uma chapa e contribuir com a vitória do candidato que é o melhor neste cenário que está posto nas eleições municipais”, afirmou. Mas “eu faço política preocupada não só com a essência dos fatos, mas também com o subliminar desses fatos. Aquele episódio estabeleceu um padrão médio único de compreensão dos fatos políticos que eu não aceito. Aquela figura e nós, com toda nossa história de resistência à ditadura e reconstrução da democracia, sem dúvida nenhuma estivemos em lados opostos”, explicou.
Erundina deixou claro que o que mais a agrediu neste processo foi a foto de Lula junto com Maluf e não o apoio do PP à candidatura Haddad. “Aquela foto mais que me irritou, me agrediu. Fui perseguida pela ditadura e ele não só apoiou a ditadura, como foi agente e corresponsável pelos crimes de violação de direitos humanos”, frisou.
Para ela, aquela imagem dialoga com símbolos e Maluf foi muito inteligente em manipulá-los. “Política se faz muito com símbolos. E ele aproveitou bem isso. Ele é um mestre. Criou todo um cenário com um simbolismo muito forte, de atrair a principal figura popular da política do país, o Lula, levá-lo à sua casa, fazê-lo almoçar com o dono da casa, posar nos jardins daquela mansão, e fazer gestos de intimidade, de proximidade. A intimidade daquele cenário, o simbolismo do que se passou, aquele afago que ele (Maluf) faz na cabeça do candidato, a presença do ex-presidente Lula que, por motivos de saúde, não pode ir ao lançamento da chapa dois dias antes, eles convencem mais que mil palavras, mil discursos”.
O projeto do Haddad é o melhor para a cidade
Mesmo dizendo-se ofendida e agredida com o apoio de Maluf à candidatura petista, Erundina fez questão de reafirmar seu apoio ao candidato Fernando Haddad. “Não estou negando meu apoio ao projeto, que sem dúvida nenhuma é o melhor. Ou no mínimo iremos fazer com que seja o melhor”. Sobre a forma como se dará o seu apoio na campanha, Erundina afirmou que isso vem sendo estudado, mas que estará nas ruas.
Sobre a sua relação com o PT, afirmou que os princípios que ela aprendeu no partido ainda orientam a sua atuação política. “Quando eu falo que mudei de casa na mesma rua, isso é real. Os princípios que aprendi, incorporei, que eu tentei ser fiel a eles quando vim ao PT. Eu não abri mão deles e eles norteiam a minha militância em relação a tudo”, frisou.
Quando foi questionada por internautas sobre o apoio que recebeu do ex-governador Orestes Quércia na eleição de 2004, afirmou: “Eu não comparo Quércia a Maluf. O Quércia foi perseguido, o Maluf foi artífice, foi um dos atores principais que mantiveram o golpe, que atrasaram a democracia no País. Não dá pra comparar”, disse.
Política higienista de Kassab é repugnante
Além da polêmica sobre sua saída da chapa de Fernando Haddad, Luiza Erundina comentou a política praticada pelo atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e defendeu a descentralização do poder na cidade. “Cada subprefeitura é uma grande cidade. Temos que descentralizar o poder.” Para ela, o número de secretarias deveria ser reduzida e as subprefeituras teriam que ter sua autonomia ampliada. “Não dá para governar uma cidade com quase 12 milhões de habitantes de forma centralizada em secretarias departamentalizadas”.
Sobre a política de Kassab para o centro da cidade, especificamente a região da Cracolândia, a deputada federal afirmou que ela é ineficiente e repugnante. “Essa política higienista é repugnante e não é eficaz. Tem um viaduto perto da onde eu moro e a população da rua ocupa o viaduto pela manhã, desaparecem e voltam à noite. Isso é danoso ao cidadão e fica aquela coisa de gato e rato. Eles se escondem em algum buraco enquanto os guardas estão por lá, e depois voltam. Isso é inaceitável em uma cidade como São Paulo “, afirmou.
Erundina criticou ainda a falta de representatividade da população nas decisões do poder público municipal. “Os cidadão não são tratados como tais e não são chamados a influir no destino da cidade como sujeitos. A cidade é do cidadão”, destacou.
A deputada federal ainda criticou as ações do governo estadual na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos. “O valor maior não é o cidadão, seus direitos fundamentais. São negócios que não aparecem na repressão do estado na defesa de um patrimônio. Um bem que está ocioso se transforma em bem comum. Temos que ter ações efetivas para acabar com a especulação imobiliária. Nós inclusive entramos com um projeto de lei para regular essa questão da propriedade do bem para seu uso social”.
Assista à entrevista na íntegra: Video streaming by Ustream